Movimento negro vai denunciar Sílvio Santos por racismo: ele age como senhor de escravos. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 9 de dezembro de 2019 às 14:42

O diretor da Educafro, frei David dos Santos, pretende reagir às cenas de discriminação explícita protagonizadas por Sílvio Santos em seu programa de auditório.

“Marcamos para amanhã uma reunião com nossos advogados. Veremos qual o melhor a caminho para buscar justiça nesse caso de racismo”, disse ele.

A Educafro é uma associação que luta para promover a educação e o trabalho entre os negros. Teve atuação destacada na implantação de políticas de cotas nas universidades públicas.

No Programa Sílvio Santos deste domingo, a cantora Jennyfer Oliver foi interrompida por Sílvio Santos quando cantava Caneta Azul.

Foi a única das quatro competidoras que teve a interpretação interrompida pelo comentário de que a música era muito chata. Era a única negra.

“Em nenhum momento eu me fiz de vítima, mas me senti super constrangida pela situação dele ter escutado as três cantarem e quando chegou na minha vez ele me barrou”, disse, em desabafo publicado na rede social.

Mesmo assim, o público entendeu que a melhor interpretação foi a dela: recebeu 84 votos, contra oito, cinco e três das demais competidoras.

Sílvio Santos, no entanto, ignorou a escolha do público. “Se eu estivesse na minha casa, vendo o programa depois que eu ouvi esta música, Caneta Azul, na minha opinião a melhor intérprete na televisão: Juliana, você ganhou!  Você é muito bonita, você canta bem.”

O constrangimento de Jennyfer foi visível. As outras duas jovens brancas aplaudiram, Jennyfer ficou paralisada.

“O Silvio vai continuar podre rico e não vai adiantar nada ficar brigando pelo que achamos que está certo. O certo hoje é errado e o errado é certo. Vai continuar do mesmo jeito. Não adianta processar, ir atrás de direitos, porque vou ser prejudicada, nunca mais vou participar de emissora nenhuma, vou queimar meu dinheiro com advogado… Deixa pra lá. O importante é que vivo da música, trabalho honestamente e ganhei carinho do público”, disse.

“Foi racismo, sim”, entende David dos Santos, que estuda alternativas para o caso. “Não foi brincadeira do Sílvio Santos, embora o racismo cordial brasileiro ocorra muitas vezes na forma de  brincadeira. Não é. Ofende, machuca”, acrescenta.

Na semana passada, a Educafro recorreu à Defensoria Pública da União contra a nomeação de Sérgio Nascimento de Camargo, que é negro e já disse, entre outros absurdos, que a escravidão foi “benéfica para os descendentes”.

A nomeação de Sérgio Nascimento foi suspensa por decisão da Justiça no Ceará, em outra iniciativa.

Desta vez, frei David cogita procurar o SBT para tentar um acordo, com a participação do Ministério Público.

“É preciso garantir a presença do negro na programação da emissora. Nossa idéia é transformar um ‘inimigo’ — no caso, Sílvio Santos — em aliado.”

Difícil.

O apresentador e dono do SBT, Sílvio Santos, já deu mostras de que, sem pressão, jamais será aliado do movimento negro ou de qualquer outro movimento social.

O público sabe.

“Vocês que me desculpem, mas o fato do Silvio sSantos ser velho não justifica o motivo dele ser racista. Ele é rico e tem todas as ferramentas pra saber que isso é errado”, escreveu um internauta.

Desde ontem à noite, o assunto é um dos mais comentados no Twitter, com quase 90 mil manifestações, a maior parte de desaprovação.

No mesmo programa, em outras oportunidade, Sílvio Santos mostrou como vê os negros, sobretudo as negras. Como um velho senhor de escravos, a pretexto de brincadeira, ele pediu que uma moça “cheia de curvas” ficasse de costas, a abraçou por trás e disse:

“Fica aqui na minha frente, já que você quer se esfregar. Meu bem, finge que eu não estou aqui.”

Sílvio Santos com uma moça do auditório