MP investiga troca de mensagens racistas e nazistas em universidade do Paraná

Atualizado em 21 de setembro de 2022 às 11:28
A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)
Foto: Reprodução/UEPG

Por Angieli Maros

A ouvidoria da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), nos Campos Gerais, apura a troca de mensagens racistas entre alunos da instituição. O episódio foi em um grupo do WhatsApp de acadêmicos do curso de Agronomia e chegou ao conhecimento da direção da universidade por meio de denúncia anônima no dia 22 de agosto. O caso foi encaminhado à Ouvidoria da UEPG e também ao Ministério Público do Paraná (MPPR), onde uma investigação corre sob sigilo.

O Plural teve acesso às mensagens, trocadas no grupo intitulado “Calourada agronomia” [o nome designa ainda um ano específico, mas o número não aparece nas imagens]. Há poucos diálogos, e a maioria do conteúdo sob investigação foi compartilhado em forma de “figurinhas” criadas a partir de imagens de conotação racista. Aparecem ainda postagens de cunho homofóbico e de símbolos nazistas. Internamente, o episódio foi denunciado à Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae).

O recorte que está sendo investigado mostra a interação de ao menos 10 alunos, a princípio em um mesmo dia, entre 20h48 e 21h01. Neste intervalo, apenas uma pessoa sai do grupo. Outra que de início escreve “Vocês acham engraçado mesmo?” depois também compartilha imagens de mesmo sentido.

Um dos stickers iniciais diz “Opa Opa Preto aqui não” anteposto a uma foto de membros da Ku Klux Klan, organização terrorista de extrema-direita, fundada nos Estados Unidos, que se autoproclama supremacista. O movimento foi criado em meados do século XIX, nunca deixou de existir, mas suas células vêm atuando mais ativamente nos últimos anos. Durante o governo de Donald Trump, chegaram a usar as ruas do estado de Virgínia para fazer uma passeata contra negros, imigrantes e judeus.

Logo abaixo da imagem do movimento, outro aluno responde “KKK” – sigla da Ku Klux Klan, mas também usado no Português como onomatopeia de risada. Em seguida, duas outras fotos compostas mostram uma criança negra que corre de um homem branco armado em cima de uma bicicleta.

A sequência continua com o desenho de um homem em vestes de uma camiseta estampada com a suástica, símbolo do nazismo alemão do século XX. Sobre a imagem, a frase “Se eu ganhasse um real cada vez que sou racista, provavelmente um preto filha da puta iria me roubar”; e, depois, uma montagem com a foto do presidente Jair Bolsonaro em que aparece a expressão “ihu!!”.

No mesmo tom, é reproduzida a foto de uma criança branca “cavalgando” sobre uma criança negra, e uma segunda imagem colocada pelo mesmo aluno traz a frase “Uma vez eu tava andando na rua e vi um negro um com Ps4 na mão e pensei ‘Parece o meu’, mas aí lembrei, o meu tava em casa engraxando meu sapato”.

Ao longo da conversa, uma figura com a frase “toda vez que alguém posta essa figurinha um preto é baleado” é repostada diversas vezes por diferentes estudantes. No grupo também circularam imagens de Adolf Hitler e outras de sentido homofóbico.

Em duas delas, bonecos com o fundo das bandeiras do partido nazista alemão e dos Estados Confederados dos EUA – adotada por ultranacionalistas e defensores da segregação racial – chutam bonecos com as cores da bandeira LGBTQIA+. Uma terceira edita sobre uma foto do presidente Bolsonaro com o dedo em riste a frase “Opa Opa Opa gay aqui não”.

O material ao qual a reportagem teve acesso mostra ainda algumas mensagens contra a esquerda e em defesa de Bolsonaro – o presidente, que chegou a declarar que “negros são pesados em arrobas”, já negou a existência do racismo no Brasil.

Conteúdo racista

No conteúdo original estão à mostra nomes e números dos alunos que interagiram na conversa. Mas para manter o sigilo dos envolvidos e do próprio denunciante, os dados foram omitidos nesta publicação. A reportagem também decidiu remodelar o plano de fundo do grupo.

Investigação sob sigilo

Apesar de muitas das imagens estarem ligadas a nomes e números, a Universidade Estadual de Ponta Grossa não informou se já identificou todos os estudantes que compartilharam as mensagens racistas.

Em nota, a UEPG afirmou que o caso, relacionado a alunos matriculados na instituição, chegou diretamente à Prae. O processo na Ouvidoria e o encaminhamento da denúncia ao Ministério Público do Paraná foram providenciados já no dia seguinte.

A instituição também não respondeu qual o tipo exato de procedimento aberto pela Ouvidoria nem se manifestou sob a condição dos estudantes neste momento – se seguem frequentando as aulas normalmente ou não.

O MPPR, também em nota, confirmou a instauração de um procedimento para apuração, mas não deu mais informações, pois o trâmite está em sigilo.

Piraí do Sul

Também nos Campos Gerais, o MPPR apura denúncia de racismo durante um desfile cívico em Piraí do Sul.

Vídeo compartilhado na página oficial da prefeitura no Instagram mostra crianças negras vestidas de escravos. Elas caminham atrás de um carro onde algumas crianças brancas representam os primeiros europeus a chegar às terras brasileiras. O caso foi no último 7 de setembro, em meio às celebrações dos 200 anos de independência do Brasil.

A forma como a encenação foi montada gerou questionamentos nas redes sociais. O vídeo foi postado pela prefeitura nos stories, recurso do Instagram que apaga o conteúdo após 24 horas. Na tarde desta segunda, as imagens do desfile ainda estavam no ar, mas o vídeo criticado já havia sido retirado.

Texto publicado originalmente no Plural

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