O presidente Lula (PT) afirmou nesta sexta-feira (11) que o ministro da Defesa, José Múcio, entrou em contato com ele “apavorado” após dizer que uma licitação do Exército brasileiro para a compra de 36 veículos blindados obuseiros de 155 mm de uma empresa israelense travou por “questões ideológicas”.

Apesar da preocupação de Múcio, Lula garantiu que a declaração não afetou sua relação com o ministro e que ele continuará à frente do Ministério da Defesa. A afirmação foi feita durante uma entrevista à rádio O Povo/CBN, em Fortaleza.

“O ministro José Múcio me ligou apavorado porque achava que falou alguma coisa que não deveria ter falado. Eu falei ‘José Múcio, não se preocupe, aquilo que a gente falou já está falado, já foi explorado, esqueça, toca o barco para frente'”, disse Lula.

Ele também garantiu: “‘Você não vai perder um centímetro de importância comigo por causa disso’. Sou muito amigo dele. Não abalou em nada a permanência dele no Ministério da Defesa”>

Na terça-feira, durante um evento na Confederação Nacional da Indústria (CNI), Múcio havia comentado sobre a licitação: “Houve agora uma concorrência, uma licitação, venceram os judeus, o povo de Israel. Mas por questões da guerra, do Hamas, os grupos políticos, não estamos com essa licitação pronta, mas por questões ideológicas, nós não podemos aprovar. O TCU não permitiu dar ao segundo colocado e nós estamos aguardando que essas questões passem, para que a gente possa se defender.”

Vale destacar que o assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, tentava dissuadir Lula de assinar o contrato com a Elbit Systems, vencedora da licitação de R$ 1 bilhão em abril, para a compra de veículos blindados equipados com obuses de 155 mm. O argumento de Amorim era que o governo de Israel havia ofendido o presidente brasileiro, o que levou o processo a ser paralisado.

Esse atraso gerou insatisfação no Ministério da Defesa, que planejava receber dois blindados de amostra até 2025, com os outros 34 sendo entregues em lotes anuais até 2034. A compra é parte de um projeto estratégico do Exército, iniciado em 2017, que visa aumentar a capacidade da infantaria.