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Muito além do sorvete: Temer e Häagen-Dazs têm em comum a história falsificada. Por Kiko Nogueira

 

Michel Temer recuou novamente.

Agora renunciou ao sorvete que encomendou para seu avião. A licitação de R$ 1,75 milhão havia sido lançada na semana passada e foi notícia na coluna de Lauro Jardim.

Empresas interessadas deveriam apresentar suas propostas para o serviço na próxima segunda-feira, dia 2.

No meio de uma crise sem precedentes, em que ele se orgulha de tomar “medidas impopulares” e recessivas, Michel se sentiu à vontade para gastar, por exemplo, R$ 7 500 em gelados da Häagen-Dazs — 500 potes de 100 gramas, R$ 15,09 cada um.

Diante do barulho, Temer fez o que já virou sua especialidade e recuou, mas o estrago está feito, mais um numa coleção de desastres.

O presidente e a Häagen-Dazs, veja só, têm um ponto vital em comum: a história de ambos é uma fraude. Temer assumiu o poder num golpe, montado numa fama de grande articulador político (na verdade, era operador de gangue).

Conspirou, escreveu cartas fajutas reclamando de ser vice decorativo, depois se incluiu num jantar com Putin que nunca existiu. Ocupa um cargo com 8% de aprovação. Agora diz que quer ser reconhecido como “o maior presidente nordestino que passou pelo Brasil”.

Já a Häagen-Dazs não é dinamarquesa, alemã ou sueca. É do Bronx, bairro de Nova York. Reuben Mattus fundou o negócio com a mulher Rose na década de 60.

O nome não significa nada, como o de Michel Temer.

A empresa começou com três sabores: baunilha, chocolate e café. Mattus inventou o título porque achava que ele transmitia uma “aura das tradições do Velho Mundo”, segundo o site oficial.

Ele acrescentou o trema, acento que não existe na língua dinamarquesa. As embalagens originais continham um mapa da Dinamarca para dar a impressão de que o produto era europeu.

Em marquetês, isso ganhou o nome de “storytelling”. A Diletto também criou uma mitologia fake.

A maior diferença entre os dois é que, ciente da farsa da Häagen Dazs, você continuará amando o sorvete (o que é aquele de cheese cake, benza deus?). Já o Michel é cada dia mais desprezível.

 

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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