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“Muito mais grave que a corrupção é a questão ideológica”: Bolsonaro e a glória do bandido bom de direita. Por Kiko Nogueira

Jair Bolsonaro em evento do PSL

Num encontro com parlamentares eleitos do PSL, em Brasília, Jair Bolsonaro repetiu uma ladainha já usada na campanha sobre o valor relativo da roubalheira.

Só que, desta vez, foi mais explícito.

“Precisamos do parlamento e precisamos, acima de tudo, dar o exemplo. […] Estamos no mesmo barco. Se eu afundar, não é vocês não, é o Brasil todo que vai afundar junto. E não teremos retorno”, disse.

“Se nós errarmos, aquele pessoal volta e nunca mais sai. E quem vai ter que sair seremos nós. E vai faltar toco de bananeira para nós nadarmos até a África ou até os Estados Unidos”.

E aí a chave da discurseira: “Muito, mas muito mais grave que a corrupção é a questão ideológica. Vocês sabem muito bem disso”.

O PSL venceu a eleição com Bolsonaro, mas o DEM, que nada mais é que o PFL repaginado, está ganhando os ministérios e o governo.

JB é uma extensão de Michel Temer, inclusive nos métodos. Dos doze ministros anunciados, quatro são investigados.

Luiz Henrique Mandetta (Saúde) por fraude em licitação, tráfico de influência e caixa 2. Tereza Cristina (Agricultura) é acusada de beneficiar a JBS.

Onyx Lorenzoni (Casa Civil) por recebimento de caixa 2 (e não é aquele caso que ele admitiu). Paulo Guedes (Economia), por irregularidades em fundos de pensão.

Bolsonaro já se defende: apenas uma denúncia “robusta” vai tirar alguém do time.

Tudo sob os olhares de Sergio Moro, o indemissível, agora dando o perdão divino a Onyx.

Fisiologismo, troca de favores, chantagem, ladroagem, incompetência — o lixo institucional permanecerá, apesar do que JB prometeu em matéria de “renovação” e “ética” aos otários.

Os fins justificam os meios. Pode ser corrupto, desde que seja “ideológico” e ajude a enxotar os comunistas.

No livro “A Ditadura Envergonhada”, Elio Gaspari escreve o seguinte sobre o regime militar: “Perseguir subversivos era tarefa bem mais fácil do que encarcerar corruptos, pois se os primeiros defendiam uma ordem política, os outros aceitavam quaisquer tipos de ordens”.

Bolsonaro tem a quem puxar.

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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Kiko Nogueira

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