Os jogos paralímpicos, previstos para o mês de setembro nos mesmos estádios em que ocorreram as Olimpíadas, no Rio de Janeiro, têm ingressos encalhados nas bilheterias.
O espírito olímpico durou pouco. A venda de ingressos cresceu, após uma tímida campanha de alguns internautas nas redes sociais, mas ainda segue longe do ideal.
A Vogue Brasil, numa tentativa de parecer engajada na causa, promoveu uma campanha estrelada por Cleo Píres, representando a paratleta do tênis de mesa Bruna Alexandre, e Paulinho Vilhena, representando o paratleta de vôlei sentado Renato Leite.
Na imagem, os atores aparecem desmembrados com photoshop. A foto foi postada no Instagram da revista com a hashtag #SomosTodosParalímpicos.
Não se pode negar que a Vogue Brasil é nota 10 em senso de oportunidade: uniu, para esta campanha, uma pauta que toca o público e rende compartilhamentos, atores carismáticos e uma boa dose de insensibilidade.
Dói dar visibilidade aos atletas paralímpicos? Eles, que ainda são patrocinados quase majoritariamente com recursos públicos, porque a iniciativa privada é preconceituosa e mercenária demais para enxergá-los? Que multiplicaram por dez o número de medalhas de ouro desde 1992 e ainda assim não são prestigiados pelo público porque os ingressos encalham, apesar de muito mais baratos do que os ingressos das olimpíadas?
Dói, sim. A Vogue tem alergia a dar visibilidade às minorias.
O Baile Vogue 2016, por exemplo, escolheu “homenagear” a África com a infeliz chamada: “Para quem ainda não tem fantasia, o nosso guia fashion africano te ajuda a se embelezar para o Baile da Vogue 2016.”
A cultura africana tratada como fetiche, modelos brancas enegrecidas com maquiagem e photoshop – a atriz Thaila Ayala virou “crespa” num piscar de olhos com apenas um baby-liss e boa dose de cara de pau.
Nada diferente do que fez a Vogue Francesa em 2009, trazendo também uma modelo branca pintada de negra.
Querer “dar visibilidade” aos negros sem contratar negros e apoiar atletas paralímpicos desmembrando atores globais com photoshop: eis o mais absurdo da estupidez e da insensibilidade da alta sociedade.
Para a Vogue, apoiar causas nobres tudo bem, mas empregar modelos negros e permitir que paratletas estrelem campanha em favor deles próprios já é vandalismo. As questões sociais não passam de matéria-prima para autopromoção barata e geração de lucros – porque a verdadeira empatia, esta passa longe.
A high society sabe que empatia é chique, lucrativa e está na moda: ela só não tem a menor ideia de como praticá-la.
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