“Mulher livre assassinada por não se submeter”, diz Marjorie Estiano sobre Ângela Diniz

Atualizado em 19 de outubro de 2025 às 13:46
Marjorie Estiano como Ângela Diniz em nova série

Em entrevista ao O Globo, a atriz Marjorie Estiano falou sobre os desafios e o impacto de interpretar a protagonista da série Ângela Diniz: Assassinada e Condenada, da HBO Max, que estreia no dia 13 de novembro. A produção revisita o assassinato da socialite mineira em 1976, vítima de feminicídio cometido por Doca Street, interpretado por Emilio Dantas. “Continuamos morrendo por feminicídio”, afirmou Marjorie, ao destacar a relevância do tema no contexto atual.

A atriz, de 43 anos, disse ter mergulhado na complexidade da personagem, conhecida como “Pantera de Minas”, símbolo de liberdade feminina nos anos 1970. “Embora a Ângela tenha sido assassinada, pensei: ‘Finalmente, vou fazer uma mulher que transa, bebe e é dada ao prazer’”, contou. Marjorie explicou que a construção da personagem foi feita com cuidado para não reduzir a figura de Ângela à sua sensualidade. “Era uma mulher livre e foi assassinada por não se submeter a nada, e não porque era bonita ou provocava ciúmes”, afirmou.

A série tem direção de Andrucha Waddington e é inspirada no podcast Praia dos Ossos, da Rádio Novelo. Marjorie revelou que todas as cenas de nudez e sexo foram acompanhadas por uma coordenadora de intimidade e revisadas na montagem final para evitar a objetificação da personagem. “Se não tivéssemos esse cuidado, esvaziaríamos o feminicídio, o estupro e a importunação”, disse.

Ângela Diniz.Foto: Reprodução

Durante a entrevista, a atriz também comentou a importância histórica do caso, que levou os movimentos feministas a se mobilizarem contra a tese de “legítima defesa da honra”, usada para absolver o assassino de Ângela — argumento que só foi invalidado pelo Supremo Tribunal Federal em 2023. Para ela, o julgamento de Doca Street “vilipendiou a memória de uma mulher que ousou ser dona de si”.

Além da nova série, Marjorie falou sobre a trajetória pessoal e o machismo que enfrenta desde jovem. “O fato de ainda precisarmos nos preocupar sobre qual roupa usar, aonde e que horas ir ainda é um cerceamento”, declarou. A atriz recordou experiências da adolescência e destacou como a educação patriarcal molda o comportamento feminino. “O homem acredita que o corpo da mulher está acessível para ser tocado. Eu me lembro de, na escola, precisar proteger a bunda com a pasta, se não os meninos passavam a mão.”

Com mais de duas décadas de carreira, Marjorie disse estar em uma fase de maior equilíbrio e liberdade criativa. Em paralelo à série da HBO Max, ela participará dos filmes Enterre seus mortos, de Marco Dutra, e Precisamos falar, de Pedro Waddington e Rebeca Diniz, previsto para 2026.