“Mulher não vota em mulher”: se Tabata for inteligente, apoiará Boulos contra Marçal. Por Nathalí

Atualizado em 30 de setembro de 2024 às 17:07
Tabata Amaral (PSB) e Pablo Marçal (PRT), candidatos em São Paulo. Foto: reprodução

Mais uma polêmica envolvendo o candidato à prefeitura de SP, Pablo Marçal: ofender as mulheres e demonstrar toda sua ignorância a respeito delas em um debate público.

Aparentemente, o ex-coach adota uma estratégia suja (e, convenhamos, batida) de tentar tornar-se popular, mesmo sem boas propostas e com o carisma de um poste.

Ele se envolve em polêmicas constantes (seja levando uma cadeirada, seja mandando seus assessores socarem um marqueteiro, seja ofendendo e subestimando mulheres).

“Ô, Tabata, se mulher votasse em mulher, você ia ganhar no primeiro turno. A mulher não vota em mulher, mulher é inteligente. Ela tem sabedoria, ela tem experiência. Ela olha para você e vê você sempre nesse embate e não vai votar em você. Se fosse isso, pobre votava em pobre, negro votava em negro”, disse, em debate UOL, como provocação à adversária.

Além do fato de o candidato utilizar estratégias de guerrilha para tentar se tornar popular, transformando cada debate em um espetáculo de provocações e memes, há tantas coisas problemáticas nesta fala que é difícil saber por onde começar.

O ex-coach mostra, em primeiro lugar, seu desconhecimento acerca das minorias. Sim, é uma tendência identitária que negro vote em negro, mulher vote em mulher, trans vote em trans, pobre vote em pobre e sobretudo trabalhador vote em trabalhador.

Não estou entrando no mérito de se isso é bom ou ruim, apenas elucidando o que o candidato ignora.

Em sua provocação a Tabata Amaral, Marçal faz a linha macaco que não olha para o próprio rabo: as mulheres brasileiras sabem que quem “fica sempre nesse embate” é justamente ele, que jamais apresentou qualquer proposta decente, tendo apenas protagonizado toda sorte de baixarias.

“A mulher não vota em mulher. Mulher é inteligente”

Pode fechar o caixão da candidatura do Marçal ⚰️ #DebateUOLFolha

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— Jeff Nascimento (@jnascim.info) September 30, 2024 at 11:02 AM

Se Tabata Amaral for tão inteligente quanto parece, apoiará Guilherme Boulos nessas eleições para derrotar o candidato que tem tudo para tornar-se um novo Bolsonaro, menos ignorante mas não menos canalha.

Com apenas 11,9% das intenções de voto (segundo pesquisa do Estadão), ela só conseguiria vencê-lo por um milagre.

Boulos, liderando com mais de 29% das intenções de voto, é o nome que venceria Marçal, de quebra enfraquecendo-o politicamente.

Apoiar Guilherme Boulos – que, apesar de homem (e, acredite, isso não nos importa tanto) traz propostas que visam garantir os direitos das mulheres e melhorias para suas vidas, seria a maneira mais honrada com que Tabata poderia sair nessas eleições.

Talvez não por falta de inteligência, mas por uma teimosia vaidosa, isso provavelmente não ocorrerá, mas é preciso dizer ainda o mais importante nisso tudo: De fato, as mulheres brasileiras são inteligentes, ou ao menos as que não caíram nas garras do bolsonarismo.

Nós não nos curvamos ao fundamentalismo religioso da Bancada da Bíblia. Nós sustentamos o #EleNão. Nós elegemos mulheres incríveis como Erika Hilton e Sâmia Bonfim. Nós estamos organizadas em grupos e projetos políticos em todo o país.

Marçal certamente ignora essa informação, mas os feminismos no Brasil, apesar de serem classificados em diversos nichos, são organizados enquanto movimento político, suas pautas são unificadas e populares sobretudo entre as mulheres mais jovens, nossas esperanças de um Brasil em que todas sejamos livres.

Estamos presentes em todos os movimentos sociais Brasil afora, onde temos autonomia e nossa voz é ouvida.

Somos inteligentes o suficiente para sabermos que, não, não devemos votar em mulheres apenas por serem mulheres – vide o pesadelo Damares Alves -, mas por apresentarem propostas progressistas e alinhadas às necessidades das mulheres brasileiras, sobretudo daquelas em situação de vulnerabilidade.

O ex-coach usou as mulheres em mais uma cortina de fumaça, e disso não há dúvidas, mas é necessário, ainda assim, dizer que seu comentário infeliz é também infundado: a mulher brasileira é inteligente justamente porque vota em mulheres, sobretudo em mulheres preparadas e que tragam propostas que visem promover a equidade de gênero.

Somos inteligentes porque votamos em nossos pares, assim como fizeram os homens em toda a nossa história política, e ainda fazem.

Espero que as paulistanas sejam inteligentes o suficiente para não elegerem um candidato despreparado, canalha e machista.

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Nathalí Macedo
Nathalí Macedo, escritora baiana com 15 anos de experiência e 3 livros publicados: As mulheres que possuo (2014), Ser adulta e outras banalidades (2017) e A tragédia política como entretenimento (2023). Doutora em crítica cultural. Escreve, pinta e borda.