Mulher que se diz ligada à família de Bolsonaro é gravada pedindo propina em emenda

Atualizado em 25 de outubro de 2025 às 9:11
A deputada estadual licenciada Valéria Bolsonaro (PL), Amanda Servidoni e Valdemar Costa Neto, presidente do PL. Foto: Reprodução

Áudios de WhatsApp obtidos pelo Metrópoles mostram uma filiada do Partido Liberal (PL) em Rio Claro (SP) negociando a devolução de parte de uma emenda parlamentar. Amanda Servidoni pede o repasse de R$ 100 mil de uma verba pública de R$ 300 mil destinada a um município do interior.

Nos áudios, Amanda — que se apresenta como “assessora” da deputada estadual licenciada Valéria Bolsonaro (PL), atual secretária de Políticas para a Mulher do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) — cobra o valor como contrapartida de prefeitos que receberiam as emendas. Ela, no entanto, não ocupa cargo público.

Valéria Muller Ramos Bolsonaro é casada com um primo de segundo grau do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Luis Oscar Bolsonaro.

“Ele [prefeito] vai gastar 100k com a pista, entendeu? (…) E nós estamos dando 300. Desses 300 eu quero pelo menos uns 100, entendeu? Não quero 10%, filho. Vocês não sabem fazer negócio. Se ele falou que ele vai gastar com a coisa 100, ele vai tá ganhando 200 e nós 30?”, afirma Amanda em um dos áudios.

Em outro trecho, ela reforça o pedido: “É isso. É 100 e 100, entendeu? 100 e 100. Pronto. Para abrir mais [portas] nas outras cidades.” Segundo as conversas, o suposto esquema envolveria mais municípios, e Amanda seria responsável pela intermediação com deputados estaduais e federais.

Ligação com Valéria Bolsonaro

Amanda é ex-servidora da Prefeitura de Rio Claro, presidente do projeto social Mulheres pela Fé, que tem Valéria Bolsonaro como madrinha. Na última quinta-feira (23), a secretária inaugurou um escritório político na cidade, no mesmo imóvel onde funciona o projeto de Amanda.

Questionada, Amanda admitiu a autoria dos áudios, mas negou irregularidades. “Trabalho com projetos. Não tenho nada a declarar”, afirmou.

O assessor jurídico da secretaria, Eduardo Aparecido dos Santos, confirmou que Amanda atua como “assessora regional” de Valéria, mas negou qualquer vínculo com os pedidos de “cashback”.

“Não tem nenhuma relação com a Valéria Bolsonaro. A relação que tem é de amizade e apoio político. É apoio de projetos sociais. Isso sim, é público”, disse.

Em nota, a Secretaria de Políticas para a Mulher afirmou que o caso “não tem relação com a pasta”.

“A Secretaria de Políticas para a Mulher não possui relação com o projeto social Mulheres pela Fé. Emendas parlamentares são temas da Assembleia Legislativa, com pagamentos realizados às prefeituras conforme ritos administrativos e legais. Cabe aos órgãos de controle e ao Tribunal de Contas fiscalizar a aplicação dos recursos”, informou.