Multas da Lava Jato não são ‘dinheiro recuperado’, mas uma faceta da destruição de empresas. Por Mauro Santayana

Atualizado em 12 de julho de 2017 às 7:50
Dallagnol e Janot

Publicado no blog de Mauro Santayana.

O sr. Deltan Dalagnoll e certas emissoras de televisão continuam afirmando, nos ataques ao suposto “retrocesso” no contexto da Operação Lava Jato, com a redistribuição administrativa do pessoal da Polícia Federal envolvido com essa operação, que ela teria recuperado 1 bilhão de reais apenas nos últimos 10 dias, em flagrante tentativa de confundir a população.

Dinheiro recuperado é aquele devolvido de contas na Suíça, por exemplo – e nesse sentido, a Operação Lava Jato não “recuperou” mais do que algumas centenas de milhões de reais.

Dinheiro de multas punitivas, extorquidas por meio de acordos de leniência, não é dinheiro “recuperado” para a sociedade. Mas apenas mais uma forma, impiedosa, destrutiva, de se “esterilizar” e retirar, da economia real, recursos fundamentais, em um quadro recessivo, de empresas, empregos, projetos e programas que têm sido arrebentados pela justiça nos últimos três anos, acarretando um prejuízo, para a nação, dezenas de vezes maior do que aquele que supostamente foi desviado em corrupção.

São essas obras que deveriam ser urgentemente recuperadas e que, depois que cessar a atividade – se isso vier a ocorrer um dia – da verdadeira bomba de neutrons da Operação Lava Jato, nunca mais retornarão.

É incrível como, a cada vez que se toma, ou alguém diz que vai tomar alguma medida que envolva essa operação, certa mídia e cewrtos procuradores insistem em tratá-la, direta e indiretamente, como uma Vaca Sagrada, a última limonada do deserto, perfeita, intocável e impoluta como as vestes de Deus.

A Operação Lava Jato, é preciso que se diga de uma vez por todas, pode – e deve, sempre que necessário – pelo menos enquanto formos, ainda, oficialmente, uma democracia – ser criticada por qualquer cidadão brasileiro e por outras instâncias da estrutura do Estado e da República, quando não por veículos e profissionais de imprensa que não queiram, com relação a ela, agir apenas como vacas de presépio.

Ela está repleta, da acusação à “investigação” passando pelas delações premiadas e condenações, de erros judiciais que terão de ser corrigidos pelo Judiciário no devido tempo. E não merece, até mesmo por uma questão de isonomia, ser tratada de forma especial ou diferente de outras operações em execução pelo Ministério Público e pela Polícia Federal.

Até mesmo – como se não bastassem suas absurdas e nefastas consequências econômicas para o país – porque os juízes, procuradores e policiais que não tomam parte dela – nem fazem palestras ou recebem homenagens devido à espetaculosa e fabricada notoriedade dessa operação – não se encontram – nem funcionalmente, nem profissionalmente – abaixo daqueles que a compõem.