Na tarde desta sexta-feira, 13, homens foram flagrados incendiando o Parque da Previdência, localizado na Zona Oeste de São Paulo. O Corpo de Bombeiros foi acionado por moradores, e as chamas foram controladas. Esse episódio acontece em um momento crítico, em que o governo de Tarcísio de Freitas busca implementar o polêmico projeto “Nova Raposo”, alvo de protestos devido aos impactos ambientais, especialmente em um contexto de queimadas que já afetam a cidade.
O projeto prevê a construção de 48 quilômetros de marginais, 146 quilômetros de faixas adicionais, a duplicação de 28 quilômetros de pistas, 38 novas passarelas, 73 pontos de ônibus e seis pórticos para pedágios automáticos (modelo free flow), entre outras intervenções. Contudo, o projeto tem sido criticado por especialistas como o arquiteto e urbanista Nabil Bonduki, que aponta que ele favorece o uso de carros e a consequente emissão de gases poluentes, o que vai na contramão das diretrizes do urbanismo sustentável.
“O carro é o principal responsável pela emissão de CO2, um dos gases que mais contribuem para o efeito estufa. Em São Paulo, 71% dos gases de efeito estufa lançados na atmosfera vêm de veículos individuais”, explica Bonduki.
Além do aumento da poluição, o urbanista destaca o desmatamento previsto, que resultará na remoção de vasta vegetação para a expansão da rodovia. “As obras vão impactar significativamente a região: centenas ou até milhares de árvores serão derrubadas”, alerta. Ele também aponta para os riscos de aumento nas ilhas de calor e de enchentes, uma vez que a retirada de áreas verdes tornará o solo mais impermeável.
A resistência ao projeto gerou o surgimento do movimento “Nova Raposo, Não”, composto por moradores, comerciantes e associações locais. As críticas incluem as desapropriações previstas, os impactos ambientais e a falta de transparência do governo. O grupo denuncia que as audiências públicas foram mal divulgadas e que a população local não foi devidamente consultada.
Estudos conduzidos por técnicos e urbanistas indicam que aproximadamente 2 milhões de metros quadrados de áreas verdes serão removidos, incluindo matas nativas e árvores centenárias.
O Parque da Previdência, com seus 45 anos de existência, é um dos locais ameaçados. Ele preserva uma área remanescente da Mata Atlântica, abrigando espécies importantes como Pau-Brasil, Jequitibá e Jacarandá, além de quatro nascentes e uma rica fauna que inclui saguis, saruês, tucanos, corujas e jacus. Em 2017, o parque se tornou foco de estudo quando uma população de cobras Cecílias, considerada extinta na cidade, foi redescoberta no local após 60 anos.
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