Na Ucrânia, terapeutas pressionam para usar ecstasy e cogumelos contra traumas de guerra

Atualizado em 11 de novembro de 2023 às 16:55
Soldados na guerra da Ucrânia

Substâncias como LSD, psilocibina (extraída de cogumelos) e DMT (de plantas) foram proibidas globalmente desde uma convenção da ONU em 1971. Contudo, a invasão da Ucrânia pela Rússia tem impulsionado terapeutas ucranianos a defender o uso dessas substâncias em psicoterapia, dada a crescente incidência de doenças psíquicas graves decorrentes do conflito.

Psicoterapeutas relataram ao site da DW que estão utilizando mais frequentemente essas substâncias, principalmente no tratamento de soldados com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) devido à guerra. Há um movimento pressionando o Parlamento ucraniano para legalizar o uso terapêutico dessas substâncias.

Ksenia Voznitsyna, diretora do Centro de Tratamento de Veteranos de Guerra do Ministério da Saúde da Ucrânia, expressou otimismo quanto à liberação dessas substâncias para tratamentos de TEPT.

Segundo Voznitsyna, a terapia com substâncias psicodélicas pode acelerar a recuperação, sendo crucial para casos complicados decorrentes da guerra, que não respondem a tratamentos convencionais. Ela enfatiza, no entanto, que “a cura não vem da droga, mas da terapia”, referindo-se à sessão de psicoterapia conduzida enquanto o paciente está sob efeito de substâncias como psilocibina ou MDMA (ecstasy). Essas terapias, que podem durar até oito horas, devem ser realizadas sob supervisão e controle de psicoterapeutas profissionais em centros médicos.

A Ucrânia, portanto, torna-se um novo palco de um debate antigo entre defensores e opositores do uso de drogas em psicoterapia. Nos Estados Unidos, o lobby para o uso terapêutico dessas substâncias tem ganhado força, com apoio da Organização dos Veteranos de Guerra das Forças Armadas e do Departamento dos Assuntos de Veteranos, que defendem o uso de MDMA em terapias de TEPT. Espera-se uma possível autorização já em 2024.

A legalização do uso terapêutico da MDMA nos EUA, reforçada por um estudo publicado na Nature, pode ter implicações para outras drogas proibidas. Estudos semelhantes estão sendo conduzidos na Europa, conforme informou a Agência Europeia de Medicamentos (EMA).

Na Alemanha, um estudo sobre terapia com psilocibina em depressão resistente está em fase final. Segundo o psiquiatra Gerhard Gründer, da Faculdade de Medicina de Mannheim, embora bons resultados sejam observados em alguns pacientes, a terapia parece mais eficaz em estágios iniciais da doença. Gründer ressalta que o MDMA tem mostrado eficácia em terapias de trauma de veteranos de guerra, mas se mostra cético quanto ao uso de outras substâncias e critica a realização de terapias em zonas de guerra, considerando-a eticamente questionável.