Nada a comemorar: o julgamento que interessa a Lula é o da história, e este não falha. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 23 de abril de 2019 às 19:35
Lula na Bahia com estudantes . Foto Ricardo Stuckert

A 5a. Turma do Superior Tribunal de Justiça forneceu hoje mais uma prova de que Lula está tendo um julgamento político, não jurídico.

A redução da pena — foi de 12 anos e um mês para oito anos e dez meses — já era uma jogada cantada.

Há algumas semanas, essa decisão tem sido vazada a colunistas da velha imprensa.

Não houve, portanto, nenhuma surpresa.

Foi um arranjo feito pelos ministros para tentar reverter a imagem da Justiça e estabelecer um contraponto ao avanço bolsonarista, que ameaça a independência do Judiciário.

Lula, como era de se esperar, não comemorou a redução da pena. Nem deveria.

O advogado Luiz Carlos da Rocha, que tem estado diariamente com ele, saiu da Polícia Federal em Curitiba com um recado aos militantes que realizam a mais longeva vigília da história do Brasil

“É preciso lembrar que o metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, o líder de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva está sendo julgado por inimigos, adversários naturais e históricos, que são seus adversários de classe”, afirmou.

“Tribunais não têm operários, não têm gente do povo”, acrescentou o advogado.

Portanto, num ambiente como este, deve se esperar justiça? Para Lula, é claro que não.

O ex-presidente tem clareza do caráter político do julgamento, mas nem por isso cruza os braços.

Sua defesa segue atuando de acordo com as regras dos tribunais, mesmo sabendo que, hoje, tem nesses tribunais pouca chance.

Já Lula pessoalmente dedica toda sua atenção ao julgamento que tem maior importância, o da história.

Um julgamento interfere no outro, e Lula tem a expectativa de que o tribunal, cedo ou tarde, acabará cedendo ao veredito da história.

Quando os ministros reduzem a pena de Lula, mas não dão a resposta que importa — onde estão as provas? —, os tribunais ficam menores, e a imagem histórica de Lula cresce um pouco mais.

Por trás do discurso hermético dos ministros, no caso de Lula, o que se vê não é um julgamento, mas um acerto de contas.

Lula jamais será perdoado por aqueles que se consideram detentores naturais do poder.

Ex-engraxate, vendedor de frutas no semáforo, com diploma de curso primário, metalúrgico, Lula se tornou o presidente da república com a maior aprovação na história.

Se tivesse falhado, como outros com história parecida, caso de Lech Walesa, da Polônia, ele seria alvo de chacota, mas jamais iria para a prisão.

Lula está preso por seus acertos, não pelos erros.

Pelo curso natural desse processo, em alguns meses ele sairá da prisão, mas aqueles que o prenderam têm outras cartas na manga.

Podem prendê-lo por outra acusação — lembre-se que Gabriela Hardt, nos seus 15 minutos de fama, deixou uma bala na agulha.

Eles querem Lula de cabeça baixa, festejando a redução da pena. Mas isso não pode ocorrer.

Se Lula se comportasse assim, beijando o anel dos doutores que o encarceraram, ele deixaria de ser Lula e se tornaria um ex-presidente qualquer, medroso e respondendo com palmas à primeira piscadela dos que se consideram detentores naturais do poder.

A força de Lula vem do povo, e assim deve continuar.