Namoradinhas do Brasil são as mulheres que lutam contra o fascismo, não as que o abraçam. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 15 de outubro de 2018 às 17:18
Bolsonaro e Regina Duarte

É difícil imaginar um final de carreira mais vergonhoso que o de Regina Duarte.

Em um momento em que a maciça maioria dos artistas e intelectuais DO MUNDO posiciona-se contra o fascismo (a não ser que Frota possa ser considerado um intelectual), a imprensa internacional nos observa com apreensão, e até Marine Le Pen (da extrema direita francesa) considera o discurso do presidenciável “desagradável”, apoiar Bolsonaro é mais do que assinar um atestado de burrice: é escancarar ao Brasil o seu próprio saudosismo da ditadura.

A Rede Globo, apoiadora da ditadura e do golpe institucional de 2016, parece envergonhar-se de associar seu nome a uma campanha mundialmente combatida (só esta semana, as temáticas fascismo e ditadura foram abordadas em novelas, filmes e programas de auditório da PlimPlim), mas Regina Duarte insiste em envergonhar seus colegas de ofício apoiando um candidato intragável para qualquer pessoa com o mínimo de humanidade.

José de Abreu e Patrícia Pillar manifestaram-se publicamente nas redes sociais (e a internet vai à loucura!!!), em combate ao posicionamento absurdo da colega.

Enquanto Patrícia parecia apelar ao bom senso de Regina Duarte (pense nisso com carinho! Rs), José de Abreu agiu pelo constrangimento: “você inaugurou o ponto eletrônico na Globo porque não consegue mais decorar os textos”.

Poderia ter ido dormir sem passar essa vergonha no débito, hein, amada?

Ao abraçar Bolsonaro, Regina Duarte afunda seu nome na lama da história.

Há basicamente dois tipos de pessoas: as que querem mudar as coisas para que fiquem melhores pra todo mundo (olá, Patrícia Pillar!), e as que querem mudar as coisas porque se acham melhores que todo mundo.

Regina está no segundo grupo: se suas limitações artísticas já não lhe permitem exercer eficientemente seu trabalho, ela muda a forma de fazer o trabalho – porque o inferno são sempre os outros.

Se seu elitismo lhe impede de aceitar que pobres sejam tratados humanamente pelo Estado, ela apoia um governo autoritário porque “tem medo” que seus sórdidos interesses de elite sejam prejudicados.

Sua simpatia por governos autoritários, aliás, não é nenhuma novidade, logo, não deveria ser polêmica. Em 2002, no auge de sua histeria antipetista, ela ameaçou deixar o Brasil se Lula vencesse as eleições – ora, ainda estamos esperando. Antes disso, apoiou Fernando Collor. Mais perdida que fascista em show de Roger Waters, ela já posou até ao lado de Fidel Castro. Como muito bem dito por Gregorio Duvivier, Regina Duarte é a namoradinha da ditadura.

Mesmo perdida, ela parece ter notado que é impossível defender-se da verdade: sobre o constrangedor comentário de José de Abreu, ela respondeu apenas “ah, deixa ele pra lá. É aquele ator que cospe nas pessoas que discordam dele.”

E os argumentos antifascistas de seus colegas?  Quem cala, consente.

Ela representa um passado sombrio de artistas que usam sua influência para tornarem ainda mais caótico um panorama político já devastado.

Seu modus operandi é ultrapassado, porque apoiar autoritarismo, a esta altura, é demodê: as mulheres do futuro não abraçam machistas, elas dão as cartas. Enxergam além de seu próprio umbigo. Lutam com pulso firme contra projetos políticos que ameacem seus direitos.

Namoradinhas do Brasil são as mulheres que lutam, que estão comprometidas com o futuro de seu país, que fazem seu trabalho com dignidade, que não mancham a própria reputação por convicções pífias. Namoradinhas do Brasil são as Manuelas, Patrícias e Camilas.

Regina Duarte ainda não percebeu – ou talvez não se importe em terminar a carreira com a reputação em frangalhos – que apoiar fascista não é polêmico, não é ousado, não é uma prova de coragem: é coisa de quem insiste em participar dos processos de seu país sem, entretanto, olhar para o futuro.

O Brasil destes dias não tem namoradinha: tem um exército de mulheres que não se contentam em serem musas, antes disto fazem questão de escreverem elas mesmas sua história, e ajudarem a construir a história de seu país.

Talvez o Brasil ainda espere que Regina Duarte recobre a lucidez e dê ouvidos à razão, mas temo que, depois de tanto tempo, já não seja possível.

Triste fim.