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“Não acerto todas”: o papel de Moro está no fim e a queda de popularidade é só mais um sinal. Por Kiko Nogueira

Ele

 

Demorou dois anos, mas Sergio Moro está começando a admitir que não é, ainda, o messias aguardado na Avenida Paulista. A questão é que agora pode ser tarde demais.

Numa palestra na Universidade de Chicago, organizada pela Associação de Estudantes Brasileiros no Exterior, ele falou da Lava Jato com uma certa sinceridade de quem parece aceitar que tem limites.

“Não acerto todas”, afirmou.

Usou a operação Mãos Limpas, na Itália, para falar dos riscos da Lava Jato. Os dois maiores partidos do pós guerra, o Democrata Cristão e o Socialista, ruíram para fazer surgir políticos como Silvio Berlusconi, que “não tinha muito apreço pelo Estado de Direito”.

Queixou-se das críticas: “O meu trabalho é muito erroneamente desqualificado. Eu não sou investigador. Eu julgo e decido a partir de pedidos que vêm do Ministério Público e da Polícia.”

Depois de ser elogiado por um aluno, Analisou sua transformação em ídolo das matinês reaças. “Eu acho que existe uma focalização equivocada na minha pessoa. Eu sou juiz de 1ª instância e há os magistrados de 2ª instância, do Superior Tribunal de Justica e o Supremo Tribunal Federal, que, além de atuar como revisor, atua nos casos da competência originária deles para pessoas com foro privilegiado. É um trabalho institucional. Não é um indivíduo. Isso acho que faz parte da nossa cultura messiânica, de Dom Sebastião, que não acho muito positivo.”

Continuou: “Não sou eu que pauto os jornais. Mas como eu sou o juiz, há uma certa personificação. E tem que se tomar cuidado.”

Pode ter sido um show de hipocrisia. Ou talvez — talvez — Moro esteja acordando para o fato de que sua megalomania será inflada enquanto ele for útil. Como Joaquim Barbosa, ele será descartado quando e se terminar o serviço de colocar Lula na cadeia e sangrar o PT. Mas o custo tem sido enorme.

Falta agora juntar sua consciência com seus atos. Se a questão é evitar a “personificação”, basta parar de comparecer a todo e qualquer prêmio da Globo e às quermesses partidárias de figuras desprezíveis como João Doria.

Se o problema é “focalização equivocada” em sua pessoa, não custa pedir à mulher que contenha-se e não publique selfie numa página de Facebook dedicada a celebrar os feitos do marido.

Moro percebeu que chegou num limite. Segundo a colunista Vera Magalhães, da Veja, uma pesquisa apresentada à Fiesp mostra um golpe em sua popularidade.

As causas principais foram “a condução coercitiva de Lula, a suspensão provisória pelo STF da investigação contra o petista e o pedido de ‘escusas’ do juiz. O apoio a suas ações despencou de 90% para menos de 60%.”

Para a Veja publicar, é um recado forte. O garoto do Paraná que mudou o Brasil não pode tudo numa democracia — a não ser para os leitores da Veja, que ficou refém do tipo de imbecil de extrema direita que a revista cultivou ao longo dos anos.

Eis algumas das manifestações desse bando:

 

Cabe a Moro e a seus pais espirituais na mídia cuidarem desses rejeitos.

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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Kiko Nogueira

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