“Não acredito em um Brasil fascista”: o republicanismo e a reação de Dilma. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 13 de agosto de 2015 às 19:07
Ela
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Talvez tenha levado mais tempo do que deveria, mas Dilma resolveu subir o tom nos últimos dias para intervir por seu mandato.

Num encontro com perto de mil integrantes de movimentos sociais no Palácio do Planalto, na quinta (13), lembrou a clássica formulação de Carlos Lacerda sobre Getúlio: “Não pode ser candidato. Se for, não pode ser eleito. Se eleito, não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar.”

(A frase exata: “O senhor Getúlio Vargas não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar.”)

“Democracia é algo que temos que preservar. Tem que respeitar o adversário. Eu brigo até a hora do voto. Depois, eu respeito o resultado da eleição. Se não respeita o adversário do jogo, você não pode entrar no jogo”, prosseguiu.

Citou o papa, que numa carta que ele lhe enviou durante a Copa mencionava o fair play: “Respeite e honre o adversário. Porque se não respeitar o resultado, você não pode entrar no jogo”.

No SBT, ao dizer que jamais cogita renunciar, insistiu que a democracia exige “respeito às instituições”, não com relação a ela ou seu cargo, mas a todos os presidentes que virão depois.

Foi uma indireta a Aécio, claro, mas não apenas a ele. Se em março, após o protesto do dia 15, Dilma fez uma espécie de elegia do direto à opinião (“valeu a pena lutar pela liberdade”), agora foi enfática sobre o que está por trás dessas manifestações.

“Agora, o que temos de evitar é intolerância, porque a intolerância leva a conflitos que não têm solução. Ela divide um país e transforma algumas manifestações até em processos que levam à violência. Acho que tem um processo de intolerância como não visto antes no Brasil”, declarou. “Não acredito em um Brasil fascista”.

Foi a primeira vez que deu nome aos bois, reconhecendo que eles existem. Fascistas — as coisas devem ser chamadas pelo nome que elas têm, dizia um velho jornalista — não podem ser combatidos com tapinhas nas costas (para ficar apenas num exemplo, um desequilibrado que invade uma comitiva presidencial nos EUA não pode ser tratado como um acidente de percurso).

A assertividade de Dilma acontece na mesma semana em que o TCU deu mais quinze dias para o esclarecimento das pedaladas fiscais e Eduardo Cunha se vê às voltas com mais um imbroglio — Janot acusou a Câmara de agir em ‘interesse particular’ e Cunha de “confundir público com privado”.

Pode marcar uma nova fase em que o termo republicanismo deixa de significar “aceita-se tudo em nome de sabe-se lá o quê” para a virtual defesa das instituições.