“Não acredito que tenha sido um erro”, afirma jornalista atacada por Bolsonaro

Atualizado em 31 de julho de 2020 às 17:29
Bianca Santana publicou um artigo sobre a relação entre familiares e amigos de Bolsonaro com os milicianos acusados de assassinar a vereadora Marielle Franco e Anderson Gomes – Foto: João Benz

Publicado originalmente no site Brasil de Fato

POR IGOR CARVALHO E MARINA DUARTE DE SOUZA

Depois de Jair Bolsonaro (sem partido) ser denunciado no Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) por 54 casos de ataques do governo contra mulheres jornalistas, o presidente voltou atrás em uma das declarações nesta quinta-feira (30), durante transmissão ao vivo nas suas redes sociais. No vídeo, o capitão reformado pediu desculpas à jornalista Bianca Santana.

“Bacana receber um pedido de desculpas, mas não acredito que tenha sido um erro e fora, Bolsonaro”, defende a jornalista que também integra organizações sociais como a Uneafro e a Coalizão Negra por Direitos, que esta semana lançou uma campanha pelo impeachment do governo de Jair Bolsonaro.

Em maio, ela foi acusada pelo presidente de escrever fake news, com base em um texto que não era de sua autoria. Durante a transmissão, Bolsonaro disse que “cometeu um engano” e que o texto citado não foi escrito pela jornalista, mas que o nome dela estaria no final do texto e por isso teria cometido a confusão.

Para a Bianca Santana o reconhecimento é importante, mas a jornalista aponta que o fato de Bolsonaro dizer que leu o nome por engano não é verdade, porque a página referida não continha o nome dela.

Ela ressalta que publicou um artigo sobre a relação entre familiares e amigos de Bolsonaro com os milicianos acusados de assassinar a vereadora Marielle Franco e Anderson Gomes na mesma semana que a publicação mencionada pelo presidente.

O erro de Bolsonaro em coincidência com a publicação do texto faz com que a jornalista se questione sobre o motivo para seu nome ter sido citado. “Por que o meu nome estava na mesa do presidente da República? Eu continuo querendo saber por que meu nome estava na mesa dele, eu continuo perguntando qual o envolvimento da família Bolsonaro com o assassinato de Marielle Franco e seguiremos perguntando quem mandou matar Marielle”, pontua ela.

Outro ponto levantado por Santana é que o pedido de desculpas individual não muda o fato do presidente e seu governo serem responsáveis pelo maior número de ataques a jornalistas, segundo dados da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), e que a liberdade de imprensa precisa ser assegurado coletivamente para todos.

“É inaceitável que quem comanda o Estado brasileiro em vez de assegurar um ambiente para a liberdade de expressão, liberdade de imprensa seja a que mais ataque diretamente os jornalistas”, denuncia ela, que reitera que seguirá com a ação judicial contra a tentativa de desacredito e humilhação de Bolsonaro com o objetivo de inibir que ele e seu governo “sigam atacando jornalistas”.