Não basta aplaudir o Barcelona

Atualizado em 18 de fevereiro de 2013 às 16:26

É preciso seguir também as suas lições.

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Em 1974, a seleção da Holanda inovou. Assombrou. Todos atacavam, todos defendiam. O time jogava, e como, e não deixava jogar graças a uma marcação sob pressão em que vários jogadores cercavam o adversário que estivesse com a bola. A Holanda só não foi campeã do mundo pelo acaso que cerca uma competição em que uma derrota é fatal. Mas foi ela, e não a Alemanha campeã, quem fez história.

Passados quase 40 anos, o Barcelona repete a receita holandesa. A surpresa já não existe. Sabemos todos desde 1974 o que é o chamado “futebol total”. Os resultados são os mesmos. Vitórias, vitórias e ainda vitórias, muitas delas massacrantes como a de hoje sobre o assustado, acovardado Santos.

Por que a fórmula original holandesa foi abandonada a partir de 1974 até pela Holanda é um mistério. Por que o Barcelona foi buscá-la, foi obra de Cruyff, o grande maestro da seleção holandesa. Cruyff foi jogador e treinador do Barcelona, e ainda hoje é uma voz influente no clube.

É um futebol não apenas eficiente como bonito porque está vinculado ao talento dos jogadores. Não cabiam na Holanda, e nem cabem no Barcelona, jogadores grossos, incapazes de tocar com rapidez e precisão na bola. Cada um dos onze jogadores tem que ter categoria.

Não adianta apenas elogiar o Barcelona. É preciso aprender com ele. Eu adoraria que o Corinthians – comissão e jogadores – estudassem o que poderiam fazer para melhorar com as lições oferecidas pelo Barcelona gratuitamente. As partidas que vi do Corinthians no campeonato brasileiro foram penosas. Não parece ser o mesmo esporte praticado pelo Barcelona.

Antes que tudo, há que mudar a mentalidade. O futebol bonito pode, sim, ser vencedor. No tumulto de idéias que rege o futebol brasileiro, a partir de 1970 se consagrou a tese de que você tem que se europeizar – no pior sentido – para vencer.

O Brasil, lamentavelmente, caminhou na direção de Zagallo e não na de Telê. Dunga e agora Felipão são filhos de Zagallo, bem como Muricy.

Não é que faltem jogadores para os times brasileiros. Falta visão. É dada preferência a jogadores que basicamente sabem pouco mais que destruir jogadas dos adversários. Duas ou três vagas no meio de campo são dadas a eles, os chamados ‘cabeças de área’.  Muitas vezes simplesmente não sobra camisa para um jogador criativo. Messi  talvez não explodisse no futebol brasileiro contemporâneo. Poderia ser preterido, já na base, por jogadores ao estilo de Dunga.

Aplaudir bovinamente o Barcelona é pouco. Há que incorporar as virtudes centrais que o fizeram ser o que é. É patético que na terra de Pelé, Rivellino e Garrincha tenhamos que ver o Barcelona jogar para lembrar o que é arte no futebol.