Não basta só votar no Lula. Por Aloizio Mercadante

Atualizado em 26 de julho de 2021 às 17:39
Aloizio Mercadante no DCM. Foto: Reprodução/YouTube

POR ALOIZIO MERCADANTE, ex-ministro e presidente da Fundação Perseu Abramo (FPA)

Em entrevista ao DCM ao Meio-Dia, nesta segunda-feira (26), o ex-ministro e presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante, fez uma análise sobre as perspectivas e desafios de um governo progressista no Brasil, a partir de uma possível vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais do ano que vem.

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Para Mercadante, não basta só o povo votar em Lula, é preciso a formação de uma ampla frente progressista que permita a governabilidade.

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O ex-ministro defendeu que as forças progressistas dialoguem e se reúnam entorno das candidaturas mais fortes nos estados. “Se nós não politizarmos a sociedade, não associar uma mudança mais estrutural, de mudança do desenvolvimento e as pessoas não olharem que precisa votar no Lula, mas precisa votar no deputado, no governador, no deputado estadual, no senador, para você ter uma mudança estrutural no Brasil”, avaliou.

“A gente não vai avançar sem alianças. Nós temos que dialogar, nós temos que chegar e fazer uma maioria”, prosseguiu. O ex-ministro pontuou que Lula tem trabalhado intensamente no diálogo com o centro democrático, inclusive com aqueles com os quais possui divergências em algumas pautas.

Segundo Mercadante, nem todos os democratas são contra o neoliberalismo, nem todos os democratas são a favor de uma distribuição de renda para valer no país e da inclusão social, mas defendem o estado de direito democrático e não concordam com o estado paralelo, com a milícia, e com o golpismo de Bolsonaro. “Então, nós temos que também que combinar uma frente popular de esquerda eleitoral, mas dialogar com essa frente democrática e buscar ter cada vez mais possiblidade”, disse.

GOLPISMO

“Precisa constituir um bloco de forçar para ganhar e governar, porque eles querem os seguinte: ou não tem eleição se não é do jeito que eles querem, ou se é do jeito que eles querem, tem eleição, mas eles podem melar, que é o voto impresso”, afirmou o -ex-ministro ao defender que a insistência de Bolsonaro no voto impresso é um pretexto para criar um clima de tumulto e tentar reproduzir o que aconteceu nas eleições do Peru, da Bolívia e dos Estados Unidos.

“No entanto, eu acho que ele está perdendo muita credibilidade, perdendo apoio popular, está difícil qualquer cidadão defender esse desgoverno que o país vive, 550 mil mortos, totalmente desnecessária a forma como a pandemia foi conduzida, o negacionismo cada vez mais parece que estava associado a uma negociata, a presença dos militares não política está desmoralizando as instituições militares, está desmoronando aquela imagem de ética e de eficiência”, explicou.

Mercadante defendeu que o Congresso Nacional aprove a PEC que exige que militares renunciem ao cargo para assumir cargos civis no governo e a instalação de instrumentos de investigação interno para apuração das supostas irregularidades de militares no governo Bolsonaro.

CORRELAÇÃO DE FORÇAS

O ex-ministro também criticou a tentativa do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, de aprovar o semipresidencialismo, depois da população brasileira já ter se posicionado duas vezes nas urnas a favor do presidencialismo e disse que os atuais mecanismos do orçamento favorecem a manutenção de parlamentares nos cargos. Mercadante disse que 53% do investimento público no Brasil hoje são emendas e que, com isso, o estado perdeu a capacidade de decidir o que é investimento, de decidir o que é prioridade e avançar.

“Esse empoderamento, essa hipertrofia na discussão do orçamento por parte do Congresso Nacional, e é impositivo o governo não pode sequer fazer contingenciamento desses recursos, isso vai empoderando esses parlamentares e vai blindando”, analisou. Para ele, esse engessamento do orçamento, somado a um fundo eleitoral forte e ao controle dos parlamentares dentro dos partidos engessam a renovação política. “Então, a chance de reeleição no Congresso é muito alta hoje, porque é a emendinha que ele soltou lá no bairro”, criticou.

ECONOMIA
Ao tratar um pouco de economia, Mercadante pontou que o grande desafio do futuro vai ser o mercado do trabalho, o mundo trabalho. “Você veja, nós estamos com 14, 7 milhões de desempregados no Brasil, mais 6 milhões de desalentados, estamos falando aí em torno de 21 milhões de pessoas de desemprego aberto e 31 milhões de subempregados”, lamentou.

Segundo Mercadante, além da recessão, outro componente forte desse cenário é a desindustrialização. “O Brasil não pode virar uma fazenda que exporta commodities. Então, nós temos um grande desafio que é reindustrializar o Brasil, nessa indústria 4.0. Não é voltar a indústria anterior, nós temos que dar um salto para recuperar o hiato tecnológico e avançar na transição digital e na reindustrialização”, concluiu.