Não chores por mim, Argentina. Por Fernando Drummond

Atualizado em 22 de novembro de 2023 às 18:58
Javier Milei de terno e gravata, com mãos unidas e expressão séria
Javier Milei

POR FERNANDO DRUMMOND

Ao analisar a vitória de Javier Milei não devemos olhar para o passado e, sim, para o futuro. É certo que a diferença em pontos percentuais entre Bolsonaro e Haddad, Milei e Massa foram quase idênticos, mas as semelhanças são muito poucas. Explico.

Governo que vai mal na economia, ou cai ou perde. Entretanto, governo que não se comunica, se trumbica. E aqui é necessário olharmos para o futuro. Lula ganhou de Bolsonaro por cerca de dois pontos percentuais, um para lá, um para cá. Ou seja, qualquer derrapada diária pode ser fatal.

Engana-se quem acha que o bolsonarismo morreu. Talvez, e digo talvez porque a política não é uma ciência exata, se Jair Bolsonaro tivesse sido preso ou, ao menos indiciado, neste primeiro ano do governo Lula, poderíamos dizer que havia se enfraquecido. Porém, não é o que vimos. O governo federal parece estar protelando a nomeação e depois a ratificação pelo Senado Federal do novo Procurador-Geral da República para, justamente, não indiciar o ex-presidente. Ao pensar assim, erra muito os palacianos, tendo em vista que a direita não cria mártires.

Na conciliação sem limites de Luiz Inácio Lula da Silva, sua popularidade vai derretendo, a economia não dá sinais de avanço, a impunidade a Bolsonaro e seus apadrinhados que são potenciais envolvidos em corrupção não são indiciados e quem dá a pauta jornalística é a extrema-direita. A máxima no jornalismo de quem pauta ganha a pauta nunca foi tão evidente.

Ano que vem, em uma provável vitória de Donald Trump, a extrema-direita sai completamente fortalecida e isola o Brasil na América do Sul. O que pode ser feito? Comunicar-se de forma direta com a população, aprendendo com quem conhece: a extrema-direita ou figuras marginalizadas no próprio governo Lula 3, como o deputado federal André Janones.

É completamente equivocada a ideia de que a Argentina sofrerá o que já sofremos. Eles estão nos alertando, enquanto o governo faz ouvidos mocos, de que sofreremos novamente, em 2026. Porém, se o candidato da extrema-direita for só um pouco mais inteligente do que Jair Bolsonaro, a esquerda não volta ao poder tão cedo.

Nós rimos quando uma figura de Michel Temer viralizou com a roupa da boneca Barbie. Gargalhamos de Milei travestido de super-herói e falando com cachorro. Mas corremos o risco de chorarmos sangue, novamente, se não entendermos que a comunicação do governo federal é pífia. Lula fazendo vídeo de jaca, dando medalha para a primeira-dama e um sol de telletubies saudando a primavera, não é só ridículo, mas é entregar o nosso país aos inimigos da democracia.