“Não confio nessa pessoa”: João Doria causou o maior racha na história do PSDB. Por José Cássio

Atualizado em 23 de julho de 2016 às 8:28

convenção psdb

 

Não é novidade que o PSDB chega dividido na Convenção que vai definir, neste domingo, 24, o candidato do partido para a disputa da prefeitura de São Paulo.

A dúvida é se, neste ambiente de crise, vai se repetir a tradicional “madrugada tucana” – quando caciques do partido, a partir da noite de sábado até as primeiras horas da manhã de domingo, alinhavam os últimos conchavos e surpreendem os militantes que chegam para votar.

A “madrugada tucana” é um fenômeno tão comum nas convenções do PSDB que nove entre 10 militantes ainda têm dúvidas quanto à definição do nome de João Doria e do vice Bruno Covas.

Um dos principais cardeais do tucanato, o ex-governador Alberto Goldman, cuidou de por a pulga atrás da orelha dos filiados nesta semana.

Num vídeo postado na sua página no facebook, o decano literalmente chutou o balde, convocando correligionários a boicotarem a convenção.

“Eu não estarei presente”, anunciou Goldman. “Existe um candidato só, João Doria Junior, que venceu uma prévia de forma ilegítima e que está sendo contestado na Justiça eleitoral”.

A dois dias do pleito, Goldman, que aparentemente expressou o ponto de vista de colegas como Fernando Henrique, Serra, José Gregori, Aloysio Nunes, entre outros, não economizou nas críticas a Doria.

“Eu não tenho confiança nesta pessoa”, disse o ex-governador, antes de jogar farofa no ventilador e garantir o quadro de incerteza. “Espero que se encontre, ainda, a definição final: um nome que possa de fato representar a história do partido, para que possamos ter, em São Paulo, alguém confiável”.

O vídeo causou mal estar entre os simpatizantes de Doria, a ponto de obrigar Geraldo Alckmin, padrinho do publicitário, a entrar em campo para apagar o incêndio.

O governador convocou aliados (estão confirmados Beto Richa/PR, Marconi Perillo/GO, Pedro Taques/MT e Reinaldo Azambuja/MS) e lideranças nacionais para a convenção. E ainda articulou com Aécio Neves, presidente nacional do PSDB, a gravação de um vídeo em favor da unidade.

A ideia de Alckmin é aproveitar a convenção para alavancar a candidatura de Doria e mostrar força para bancar seu projeto pessoal de disputar a presidência em 2018.

Por isso não mediu esforços para vencer Andrea Matarazzo nas prévias, tampouco leiloar cargos no Estado para garantir um leque de apoio para estrategista nenhum botar defeito: a coligação em torno de Doria e Bruno Covas conta com 11 partidos, das mais variadas matizes ideológicas – do PSB do vice Márcio França ao PP de Paulo Maluf.

“A convenção será uma demonstração da força, da integração partidária e da relação do governador com outros partidos”, afirmou João Doria, que minimiza a ausência de Serra (“Se não vier é por questão de agenda”) e ironiza o ex-presidente Fernando Henrique que, como ele, João Doria, nunca foi de se integrar com a militância.

“É bom lembrar que, exceto quando ele próprio foi candidato, na década de 1980, Fernando Henrique nunca participou de uma convenção municipal”.

A despeito deste que talvez seja o maior racha na história do partido, o ex-vereador Ricardo Montoro, coordenador do programa de governo da campanha de Doria, não acredita em “virada de mesa” na reta final.

“Desta vez os filiados podem dormir tranquilos que não haverá ‘madrugada tucana’”, garante o ex-vereador.

Montoro conhece bem o partido: em 2008 era um dos signatários do documento que ia para a convenção com a proposta de o PSDB indicar o vice numa coligação que tinha o então prefeito Gilberto Kassab (DEM) como cabeça de chapa.

A tese, defendida entre outros por Serra, Goldman, Aloysio e FHC, contrariava os interesses de Alckmin que não abria mão de disputar a prefeitura.

As articulações avançaram na madrugada até às sete horas de domingo (neste horário mais de mil filiados pro coligação com Kassab já se aglomeravam próximo do local da convenção para derrotar Alckmin) quando Serra deu a ordem para abortar a operação.

Salvo pelo gongo, Geraldo dobrou seus oponentes naquele domingo.

Garantiu a candidatura, para ser fragorosamente derrotado dois meses depois, no pleito que de fato valia: com o partido dividido, o que lhe coube foi um humilhante terceiro lugar na eleição, atrás de Marta e Kassab.

Esta madrugada, como prevê Montoro, talvez seja mesmo de calmaria, com gosto de carta marcada.

O que resta saber é como se comportará o time de Doria e Geraldo na hora em que o juiz der o apito inicial no “jogo pra valer”. Lenhado, como em 2008, o partido está. O velho Goldman que o diga.