Não entrem nessa de “Milei não dura dois anos”

Atualizado em 21 de novembro de 2023 às 9:30
Milei

Publicado no X de Samuel Braun:

Logo após assumir a presidência, Milei irá enfrentar parcelas da dívida criada por Macri, seu apoiador, junto ao FMI. Prometeu recentemente que fará ataques aos direitos dos cidadãos ainda mais duros que o FMI pediu.

Descobrirá algo que ele mesmo viu acontecer no país nos anos 90, mas que a doutrinação liberal inverteu: a dolarização não só não é positiva, e sim desastrosa, como não se dá num passo de magia pela mão invisível do mercado. Propor dolarizar um país com dependência externa e balança comercial negativa é de reprovar aluno no primeiro período de economia.

Irá, sobretudo, enfrentar o desafio de descumprir as promessas de motosserra, símbolo de corte de serviços públicos, direitos civis e políticas públicas de mitigação da desigualdade. Alguma crueldade fará, e milhões irão sofrer.

Mas como todas as promessas de arrocho, “não dá bilhão” e não tem qualquer eficácia econômica. Na França, Reino Unido, Espanha, Portugal, e vários outros, nenhuma parabenização ao eleito na Argentina.

Uma demonstração de desprestígio pro país e sua escolha. No geral, elogios apenas dos países mais agressivos na política econômica liberal e/ou membros do The Movement – a internacional reaça.

E nessa seara, das relações internacionais, Milei terá de escolher: ou se isola escondendo a Argentina num tipo de gueto global até Trump ser eleito, contando (como Bolsonaro) em ser escolhido como aliado estratégico, ou se conduzirá errático entre a verborragia e a necessidade de priorizar Brasil, China e Rússia, os comunistas do BRICS, e os vizinhos do Mercosul que ele prometeu abandonar.

A contradição está na base: elegeram para administrar o Estado alguém que propõe acabar com o Estado. Certo que não acabará com ele, por ser impossível, mas o problema está em ser, assumidamente, um mal administrador: comprometido em atacar, e não defender, aquilo que administra.