Não estava com medo de morrer, mas agora estou. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 10 de abril de 2021 às 12:07
Ação realizada na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, em memória das mais de 100 mil mortes por Covid-19 no Brasil – Mauro Pimentel / AFP

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Vou contar pra vocês: eu não estava com medo, mas agora estou.

Não tenho nenhuma vontade de morrer, mas nunca me guiei muito pelo medo da morte. Sempre me considerei bem tranquilo quanto a isto. (Acho que a certeza de que não tem nada do lado de lá ajuda.) Ainda mais agora, que meu filho já está criado – quem é pai ou mãe sabe do que estou falando.

Segui desde o começo os protocolos sanitários – isolamento, contato mínimo com pessoas de fora de casa, lavar as mãos compulsivamente. Afinal, nunca foi só uma gripezinha.

Mas sem paranóia. Pensando sempre que, com os cuidados devidos, o mais provável era que tudo ficasse bem.

Nos últimos meses, porém, nossa descida para o inferno se acelerou demais. Mais de quatro mil mortes por dia – e subindo. Mortes muito próximas. Não há dia sem morte de pessoas dessa minha bolha ou de seus parentes mais chegados.

Gente que, tal como eu, tenta seguir os protocolos. Mas diante do caos no país, caos criminosamente induzido por quem tinha que evitá-lo, é cada vez mais difícil se proteger.

E os hospitais sem leitos, sem oxigênio, sem sedativos. Com seus profissionais exaustos e desesperados.

Sim, estou com medo. Acho que todos temos razões para estar com medo.

Vamos nos cuidar. Mas enquanto o genocida permanecer no poder, não há possibilidade de estarmos seguros.