“Não há bala de prata contra a mudança climática”, diz diretora do BNDES em evento pós-COP

Atualizado em 25 de novembro de 2025 às 19:47
Os participantes do Seminário Pós-COP30, evento do DCM e da FESPSP que teve apoio do BNDES

O investimento em adaptações contra a mudança climática triplicou desde a assinatura do Acordo de Paris em 2019. A informação é de Luciana Costa, Diretora de Infraestrutura e Mudança Climática do BNDES, durante o seminário “Clima e Desenvolvimento Sustentável”, realizado pelo DCM e pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), com apoio do BNDES, nesta segunda-feira (24), na capital paulista. A mediação foi do jornalista Caco de Paula, coordenador do evento.

Na abertura do debate, Aldo Fornazieri, professor da FESPSP, comentou o aspecto contraditório das Conferências do Clima: “Há muita discussão, o assunto é levado para a sociedade, mas pouco se avança, especialmente no financiamento dos mecanismo de mitigação e adaptação às mudanças climáticas”. Para Fornazieri, “só o ativismo climático vai pressionar governos e empresas a agirem contra o aquecimento global”.

Luciana deu um panorama das ações do Brasil e do banco de fomento nesse setor: “Em dezembro de 2022, o Brasil era um pária ambiental. A atual gestão do BNDES foca na inovação, sustentabilidade e na redução da desigualdade. Cerca de 1,4% das terras degradadas no Brasil serão recuperadas por meio de um fundo de R$ 75 bilhões”, disse ela.

Juliano Medeiros, ex-presidente do PSOL e professor de Sociologia na FESPSP, falou da necessidade de pôr em prática os acordos climáticos: “Dificilmente se produzirá algo melhor que o Acordo de Paris. A questão é efetivar esses documentos, pois apenas em 2024, 64 mil pessoas morreram na Europa em ondas de calor”.

Medeiros critica quem considera a COP30 um fracasso: “Pela primeira vez, tivemos um acordo no qual os países colocaram dinheiro na mesa. Fracasso foi a COP29 em Baku, quando o financiamento para ações climáticas foi de apenas US$ 400 bi quando eram esperados US$ 1,3 trilhões”, disse Medeiros.

A diretora do BNDES enumerou algumas medidas do Brasil na área climática: Nossa geração de energia é 3,5 vezes mais sustentável que a média dos países da União Europeia e, em 2024, tivemos uma redução de 50% no desmatamento e 16% das emissões de gases-estufa. O problema são os setores de difícil abatimento de emissões – navegação, aviação e construção civil”, explicou Luciana.

Belém, capital do mundo

Gabriel Siqueira, correspondente do DCM na COP30, explicou como eventos desse tipo ajudam na mobilização: “A história das negociações é pouco contada, o estande da Arábia Saudita, maior defensor do petróleo, tinha reuniões a portas fechadas. Enquanto tiver esse tipo de lobby, será impossível um texto de COP negando os combustíveis fósseis”.

Para o jornalista, “foi um acerto realizar a COP em Belém”. Siqueira citou o envolvimento da população belenense com o evento, as obras de reurbanização feitas na capital paraense e como a COP foi uma vitrine para a cidade durante os 15 dias de evento. Medeiros, da FESPSP, citou a imensa pressão para tirar a COP de Belém.

“Depois de três COP em países autoritários – Egito, Emirados Árabes e Azerbaijão – foi uma lufada de democracia a realização da conferência no Brasil. A ONU achou que o Brasil iria reprimir os protestos dos indígenas. Pressão da sociedade civil é parte desses eventos e as autoridades precisam lidar com isso”, disse Medeiros.

Veterano na cobertura climática, o também jornalista Mathew Shirts falou da centralidade desse assunto no mundo atual: “Ouvi falar de mudança climática em 2004 e afirmo – não há tema mais importante na humanidade hoje. Este não é um assunto apenas científico, é social e político. Belém é uma das culturas mais ricas do Brasil, justo o evento ter sido lá”.

A bala de prata 

De acordo com Luciana, “não há uma bala de prata contra a mudança climática”. Uso de biomassa, biocombustíveis, melhorar a eficiência energética, são muitos os caminhos para evitar o uso de combustíveis fósseis”. Ela enfatiza o aspecto econômico da equação: “Fósseis ainda são uma energia barata, precisa aumentar a oferta de energia renovável”, afirmou a gestora do banco de fomento.

Conforme ela, “Muito da transição para a economia verde terá que ser bancada pelo petróleo. Como você vai deixar enterrados cerca de US$ 3 trilhões em petróleo na Margem Equatorial e encarecer produtos? O crescimento da extrema-direita na Europa veio por conta do aumento no custo de vida”, avalia ela.

“O mundo vive um cenário tenso: há um conflito na Europa entre Rússia e Ucrânia, uma guerra civil no Sudão, baixo crescimento econômico no mundo como um todo e um negacionista do aquecimento global no Salão Oval da Casa Branca. É muito diferente de 2009, quando Obama liderava os EUA, havia menos inflação e mais crescimento nos países emergentes”, comparou Medeiros.