
Hugo Motta (Republicanos-PB) não vê espaço para aprovar uma anistia ampla a Jair Bolsonaro (PL) após sua condenação por tentativa de golpe de Estado. Segundo interlocutores, o presidente da Câmara avalia que o projeto perdeu apoio político, é impopular na sociedade e não tem votos suficientes para avançar, conforme informações do Globo.
Esses aliados avaliam que apenas uma versão mais branda da anistia, que mantenha a inelegibilidade do ex-presidente, teria chance de prosperar entre deputados e senadores. Motta, segundo fontes, tem repetido que “não há clima na Casa” e que o caminho para pacificar o país não passa por um perdão irrestrito.
O próprio presidente Lula (PT) reforçou essa posição em almoço no Palácio da Alvorada, quando pediu que a Câmara não vote a proposta.
Enquanto isso, no Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) conduz discussões sobre um texto que altera o Código Penal para reduzir penas de envolvidos nos atos de 8 de Janeiro e na trama golpista, sem atingir diretamente Bolsonaro.
No Congresso, governistas como Lindbergh Farias (PT-RJ) e Zeca Dirceu (PT-PR) já sinalizaram que, se a urgência for levada ao plenário, a estratégia será derrotar a proposta no voto. “Eles vão precisar de 257 votos. Não deve pautar, mas se pautar temos que derrotar”, disse Lindbergh.

Pesquisas reforçam a dificuldade de aprovação: levantamento do Datafolha mostra que 54% dos brasileiros rejeitam a anistia a Bolsonaro, enquanto 39% apoiam. A defesa da medida também tem causado desgaste político a Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O governador de São Paulo, estimulado pelo Centrão, intensificou articulações em favor da anistia, mas interlocutores de Motta relatam que, em reunião reservada em São Paulo, o presidente da Câmara deixou claro não pretender pautar nada que represente confronto direto com o Supremo Tribunal Federal (STF).
No PL, o cenário é de mal-estar. A fala de Valdemar Costa Neto admitindo a tentativa de golpe, recuada em seguida, ampliou as dificuldades internas. Diante disso, dirigentes avaliam alternativas como retomar a chamada PEC da Blindagem, que limita investigações contra parlamentares.
Outra possibilidade discutida é uma anistia restrita a manifestantes do 8 de Janeiro, que poderia avançar com aval do Congresso e do STF, sem incluir a recuperação da elegibilidade de Bolsonaro.
Motta também se reuniu recentemente com Alcolumbre para debater o tema. O presidente da Câmara afirmou que sua posição dependerá da maioria dos deputados, mas historicamente já adotou posturas alinhadas às do Senado.
Para aliados, o recado é claro: uma anistia ampla, geral e irrestrita perdeu fôlego e dificilmente terá espaço na pauta da Câmara.