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“Não ouvi rock de verdade ultimamente”: o último baixista dos Ramones fala ao DCM

CJ Ramone

 

Nascido no bairro do Queens, em Nova York, o músico Christopher Joseph Ward, conhecido pelo nome CJ Ramone (48), fez história no punk rock norte-americano e mundial. Entre 1989 e 1996, foi integrante da última encarnação dos Ramones, substituindo o lendário baixista Dee Dee Ramone.

CJ gravou apenas três discos com eles: “Mondo Bizarro” (1992), “Acid Eaters” (1994) e “¡Adiós Amigos! (1995)”. No entanto, ajudou bastante o cantor Joey Ramone assumindo os vocais enquanto continuava a tocar contrabaixo. Apesar do lema “faça-você-mesmo”, o Ramones de sua época tinha uma forte pegada metal e pop, além do punk. A banda acabou em 96.

Ele fará uma turnê brasileira neste mês e no próximo.

O DCM conversou com CJ Ramone sobre a morte de Tommy Ramone, o último integrante original da banda, que morreu por conta de um câncer no ducto biliar aos 65 anos no dia 11 de julho, sobre suas bandas favoritas, a turnê no Brasil, e o rock atual.

É verdade que Tommy Ramone disse, no Hall da Fama do Rock’n’Roll, que você “manteve a banda jovem e fresca”, em 2002?

Sim, é verdade. Quando fomos indicados ao Hall da Fama, eu acredito que Tommy disse isso porque ele estava espantado por eu não estar com os membros originais lá. Tommy Ramone reconheceu minha contribuição na fase mais lucrativa da banda. Aqueles foram alguns dos anos mais bem-sucedidos dos Ramones. Nunca tínhamos feito tanto dinheiro quanto nos anos 90. Acredito que era isso que Tommy quis dizer naquela ocasião.

Como você se sente com a morte de todos os Ramones originais?

É trágico saber que eles não estão mais entre nós. Chega quase no mesmo patamar da queda do avião em 77 que matou quase todo mundo do Lynyrd Skynyrd. Só que, diferentemente dos Ramones, eles conseguiram continuar depois. Meus antigos parceiros vão viver na cabeça de muitos fãs, antigos e novos.

Você tocou em uma banda de heavy metal Guitar Pete’s Axe Attack? A experiência foi muito diferente do punk rock?

Eu vim, na verdade, da cena metal de Nova York. Sempre fui um cara do heavy metal. Sempre amei punk rock, mas só entrei neste mundo graças a outros amigos. Onde eu cresci era comum tocar metal. Não tenho problemas em dizer que nem sempre fui hardcore ou punk, mas sempre tive orgulho de ser heavy metal. Eu toco e ouço esse estilo. Black Sabbath sempre foi minha banda favorita. O baixista que me inspirou foi Geezer Butler, do Sabbath.

O que podemos esperar de seu novo disco “Last Chance to Dance”? Ele terá um cover de Alice Cooper?

O álbum será muito parecido com “Reconquista” (2012). Este cover de Alice chama-se “Long Way To Go”. As músicas serão menos sérias do que meus trabalhos anteriores, ironicamente, mas elas são quase a mesma coisa. “Reconquista” era sobre coisas que aconteceram em minha vida pessoal. Esse novo disco é para se divertir.

Qual é a sua opinião sobre a cena punk rock neste novo milênio?

É difícil falar sobre o punk ultimamente porque eu parei de escutar muito. Muitos jovens têm o estilo e o jeito de se vestir, além do som de guitarra elétrica, mas eles perderam o calor pela música. Para quem é mais velho, é mais difícil confiar e ouvir novas bandas, porque as experiências deles são diferentes das minhas, eles cresceram num tempo diferente e viveram outras experiências. É complicado para eu julgar este novo momento. Para mim, não surgiram tantas bandas nos últimos anos que eu realmente tenha gostado. Não quero que pensem que sou um velhinho resmungão, mas a grande realidade é que eu não ouvi rock de verdade ultimamente.

Tem alguma banda nova que você curte?

Gosto de uma banda recente de Los Angeles chamada Signal, de 2004. E estou curtindo também o som dos Black Rips, que surgiu em 99. Não são grupos extremamente novos, mas chamaram a minha atenção.

O que te influencia na hora que você vai escrever novas músicas?

Quando sento para escrever, me chamam a atenção as músicas que eu ouvia quando era bem jovem. Minhas fontes para criar coisa nova nunca mudam. Johnny Cash, Black Sabbath, Ramones e tudo o que me influenciou quando eu era mais novo.

Qual é o seu top 10 de bandas?

Uou, essa pergunta é a mais difícil. A melhor banda de todos os tempos é o Ramones, é minha banda número 1. Gosto muito de Black Sabbath, assim como de Johnny Cash. AC/DC também faz parte dos clássicos que eu escuto muito, assim como Iron Maiden.  Metallica tem um som que me contagia. O punk de Iggy and the Stooges é muito legal, assim como o The Clash. Creedence Clearwater Revival é um som que eu acho muito legal. Eu gosto muito de reggae, o que pouca gente sabe. Por isso, ouço Jimmy Cliff. Tive que revirar meus vinis agora para lembrar todos esses nomes (risos).

O que você achou dos protestos no Brasil?

Eu acho que toda vez em que você vê muitas pessoas nas ruas, inclusive no Brasil, sentindo que existe corrupção no ar, temos que falar sobre isso. É necessário ter alguma ação. Se as pessoas deixam o governo fazer o que bem entende, isso nunca pode dar em boa coisa. Se os brasileiros acham que está acontecendo algo, eles estão absolutamente certos em se levantar e fazer algo sobre isso.

O que seus fãs no Brasil podem esperar dos shows?

Será como sempre fazemos: com muita diversão e bagunça. Tocarei músicas de “Long Way To Go” e “Reconquista”, mas teremos alguns clássicos dos Ramones. E digo aos brasileiros que Ramones é pra sempre! É isso ai.

Pedro Zambarda de Araujo

Escritor, jornalista e blogueiro. Autor dos projetos Drops de Jogos e Geração Gamer, que cobrem jogos digitais feitos no Brasil e globalmente. Teve passagem pelo site da revista Exame e pelo site TechTudo. E-mail: pedrozambarda@gmail.com

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