Não haverá “meia volta, volver” na democracia. Por Helena Chagas

Atualizado em 11 de março de 2021 às 13:03

Publicado nos Jornalistas pela Democracia

Lula em Coletiva de imprensa em São Bernardo do Campo Foto: Cyla RAMOS / @cylabg2

Por Helena Chagas

Sabe-se lá sob quais pressões, o general Hamilton Mourão ensaiou agora pela manhã um “meia volta, volver” no que havia dito ontem sobre uma eventual vitória de Luiz Inácio Lula da Silva em 2022: “O povo é soberano. Se o povo quiser a volta do Lula, paciência. Acho difícil”. Mas agora é tarde para voltar atrás, Mourão. O recado está lá bem escrito na entrevista à Folha de S.Paulo, e depois da volta do Lulinha Paz e Amor repaginado e pronto para a luta, é a principal notícia do dia. Mourão falou o óbvio, mas nesses tempos obscuros em que vivemos, para alguns é bom ouvir.

Agora pela manhã, o vice tentou se redimir com o chefe chamando Lula de velho e dizendo não acreditar em sua eleição. É um direito dele achar. Mas não tira a importância de ontem ter dito o óbvio. Mas um óbvio que mostrou que o rei militar está nu. Ou seja, apesar do arreganhos de generais da reserva e das torcidas de nariz em off jornalístico de alguns da ativa em relação ao retorno de Lula ao cenário, a maioria das Forças Armadas sabe que vai ter que aceitar o resultado da eleição e bater continência para Lula se ele se eleger. Aliás, já o fizeram muitas vezes, e não morreram por causa disso.

Os arreganhos de alguns e as reticências de outros, que dizem que nada vão falar “por enquanto” têm o mesmo cheiro do tuíte do general Villas Boas às vésperas do julgamento de um habeas corpus de Lula no STF.  Uma ameaça velada, na linha daqueles recadinhos nefastos que, nos idos da ditadura militar, as “cassandras” – políticos que cercavam e adulavam os militares – gostavam de propagar: olha, não abusem porque os militares podem se aborrecer…  Villas Boas, tuíte.

Com mais de seis mil cargos no governo, está claro de que lado os militares estão. Não gostam de Lula, mas muito mais por razões ligadas à criação da Comissão da Verdade no governo de sua sucessora, Dilma Rousseff, do que por causa de alguma coisa que o ex-presidente lhes tenha feito. A vaga explicação da corrupção não cola mais, sobretudo na boca de quem trabalha no governo de Jair Bolsonaro e convive com seus filhos.

Apesar do vaivém, o recado de Mourão foi extremamente importante e oportuno: a maioria dos militares respeita a democracia e vai aceitar qualquer resultado das urnas. Todos os fardados que tiverem alguma visão estratégica, aliás, deveriam repetir isso nesse momento, e não para tranquilizar as instituições, mas sim para zelar pela própria reputação das Forças Armadas. Quem sabe assim eles conseguem se descolar da imagem de um capitão doido que foi responsável por milhares de mortes na pandemia e afundou o país? E voltam aos quartéis, de onde nunca deveriam ter saído.