“Não mexe com quem tá quieto”: a crítica política de Anitta à proposta de criminalização do funk. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 12 de junho de 2017 às 20:09
Anitta

Mais Anitta e menos Herman & Gilmar.

Uma proposta estúpida que criminaliza o funk e o classifica como problema de saúde pública e “falsa cultura” recebeu 22 mil assinaturas de apoio e foi encaminhada para relatoria no Senado.

O mentor é um empresário paulista chamado Marcelo Alonso, para quem os bailes “são somente recrutamento organizado nas redes sociais por e para atender criminosos, estupradores e pedófilos”.

Segundo Marcelo, há venda e consumo de álcool e de drogas, além de “orgia e exploração sexual, estupro e sexo grupal entre crianças e adolescentes, pornografia, pedofilia”.

Como obteve esse número de apoios, o texto foi para um senador, Cidinho Campos, que recusou a relatoria.

No Twitter, Anitta explicou didaticamente a imbecilidade da coisa:

. 22 mil desinformados que estão precisando sair do conforto de seus lares para conhecer um pouquinho mais do nosso país.

. O funk gera trabalho, gera renda.. pra tanta gente… uma visitinha nas áreas menos nobres do nosso país e vocês descobririam isso rápido.

. Eu não quero nem imaginar a bagunça que viraria o país se um absurdo desses é colocado em prática.

. Traduzirão as músicas de outros idiomas pra proibir as q não tem mensagens q agradam aos cultos ou é só uma discriminação mais direcionada?

. A lei certa deveria ser que todo filho de quem decide nosso futuro fosse obrigado a estudar em uma escola pública sem cursinho particular.

. Que sua família fosse obrigada a frequentar os hospitais públicos… E não criminalizar uma das poucas formas que essa gente conseguiu pra ganhar a vida, amores… Aí não.

. Não mexe com quem tá quieto. Ou melhor… não mexe com quem tá se virando pra ganhar a vida honestamente diante de tanta desigualdade.

Sabe-se lá o que acontece com o tal Alonso que ele simplesmente não consegue parar de ouvir algo de que ele não gosta, mas a questão dele não é de estética musical.

Não é a primeira vez que Anitta mostra a que veio. Antes, houve a famosa descascada em William Waack no fim da festa de abertura da Olimpíada.

Waack quis saber se aquela que se apresentou com Caetano e Gil era a “verdadeira Anitta” e se ela se considerava “a nova voz da música brasileira”.

Em resumo: quem você acha que é para estar aqui?

— As pessoas têm que entender que, na música brasileira, as coisas se renovam. As pessoas nascem, podem vir a cantar, a se tornar um sucesso, disse ela.

– Você está falando em você?, inquiriu o comentarista.

– Não, em todas as pessoas dessa geração.

O desejo oculto por trás da ódio e da proibição do funk é o de proibir os pobres e indesejáveis e fazê-los sumir com uma canetada. Depois da canetada, a PM termina o serviço.

Por mais bem sucedida, Anitta e os funkeiros sempre serão um incômodo por não saberem seu lugar. O que Anitta faz não é apenas música. É política.