“Não pode ser negra e nem oriental”: procura-se uma modelo para propaganda eleitoral

 

Na última sexta-feira, uma postagem da agência Relíquia Casting no Facebook convocava mulheres para participar de um trabalho no programa eleitoral do candidato ao governo de São Paulo Geraldo Alckmin.

As interessadas deveriam ter entre 25 e 35 anos, disposição para raspar a cabeça em cena e serem “castanhas” ou “loiras”. O cachê seria de R$ 2.010 líquidos. A atriz iria simular ter câncer, daí a necessidade de ficar careca.

De acordo com o Blog Olho Neles, a agência informou que a orientação sobre a aparência da modelo veio do PSDB de São Paulo e que a atriz não poderia ser “nem negra e nem oriental”.

Levando-se em consideração as minúcias do marketing político, que opina em relação a detalhes como penteado e cor de gravata, fica difícil acreditar que a exigência feita à agência tenha sido um acidente de percurso, um “erro do estagiário”.

Quem sabe foi um ato falho? Na página de Alckmin no Facebook não há referência ao aniversário do Secretariado Nacional da Militância Negra do PSDB, o Tucanafro Brasil, no dia último dia 23. Nem à II Marcha Nacional Contra o Genocídio do Povo Negro, ato apartidário realizado em várias capitais brasileiras, inclusive São Paulo, no dia 22.

Também não há postagens parabenizando as mulheres pelo Dia Internacional da Mulher Negra, em 25 de julho, nem referência ao Dia da Abolição da Escravatura, em 13 de maio. Digamos que tenha sido amnésia.

O governo de Alckmin, justiça seja feita, propôs ações afirmativas para incluir mais negros nas universidades públicas e no funcionalismo público. Porém, uma ação como essa não vem da benevolência de um único partido ou homem público. As cotas são uma demanda da sociedade construída por anos de militância da sociedade civil e por políticos engajados no combate às discrepâncias raciais no país.

A exigência feita pelo partido à agência de recrutamento de modelos e a branquidão semiótica da página de Alckmin dão a ideia do comprometimento do partido com a causa negra. O posto foi retirado do ar.

Nas páginas do PSDB nacional e de São Paulo não há qualquer menção ao episódio do recrutamento da modelo “castanha ou loira”.

Marcos Sacramento

Marcos Sacramento, capixaba de Vitória, é jornalista. Goleiro mediano no tempo da faculdade, só piorou desde então. Orgulha-se de não saber bater pandeiro nem palmas para programas de TV ruins.

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