Não se defende a Democracia com quem mais a atacou! Por Jornalistas Livres

Atualizado em 12 de setembro de 2021 às 17:13
Kim Kataguiri com Bolsonaro, Eduardo Cunha, Eduardo Bolsonaro: contra a Democracia

É possível defender a Democracia ao lado de quem mais a atacou?

O grupo Jornalistas Livres refletiu sobre isso em Editorial publicado neste sábado (11).

Ou seja, na véspera dos atos convocados pelo Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Leia, abaixo, a íntegra do conteúdo:

O MBL e o Vem Pra Rua convocaram para este domingo, dia 12, um ato contra Bolsonaro. Dirigentes dos dois grupos espertamente tentam capturar o simbolismo da Campanha das Diretas Já, dizendo que agora, como em 1984, é preciso juntar todo mundo em defesa da Democracia.

Por causa desse argumento, algumas organizações sindicais, movimentos sociais e partidos se assanharam para participar da mobilização. Ciro Gomes e seu PDT, a deputada federal Tabata Amaral (sem partido), o deputado federal Orlando Silva (PCdoB) e até a psolista Isa Penna já confirmaram presença na avenida Paulista. Kim Kataguiri, que andava meio murcho, sorri satisfeito. É a chance de o MBL voltar à cena política como protagonista.

Não importam aqui as razões pelas quais os “garotos” do MBL não se entenderam com Bolsonaro. Joice Hasselmann também abandonou o barco do governo federal, entre outros. O que importa é que, apesar de brigado com Bolsonaro, o MBL ainda é um fanático bolsonarista, quanto ao projeto de País que defende.

O MBL apoiou a eleição de Jair Bolsonaro, mesmo quando já se sabia do amor do capitão pelo torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra. Foi o organizador dos ataques mais misóginos à presidenta Dilma Rousseff, durante o golpe que a afastaria do cargo. Avacalhou a luta dos estudantes secundaristas contra o desmonte da escola pública. Atacou todos os direitos trabalhistas, inclusive a Justiça do Trabalho, tudo pelo lucro dos patrões. Apoiou o linchamento do PT e de Lula, apoiou a destruição do SUS e da Educação, com a PEC do Teto de Gastos. O MBL não se opõe ao bolsonarismo. É sócio dele.

Os setores democráticos que agora querem participar do ato deste domingo (12) argumentam que é preciso unificar todas as forças contra Bolsonaro, o MBL e o Vem Pra Rua incluídos. Que, assim como foi nas Diretas Já, vale até se ajoelhar diante de Kim Kataguiri e seu bando de adoradores do Deus Mercado. Só que a campanha das Diretas Já não foi feita com todo mundo. Foi, na verdade, feita com o povo e a Oposição à Ditadura, com seus partidos e sindicatos.

Tem razão quem diz que é preciso a frente mais ampla para derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo. Mas isso significa unir o povo que está esfomeado e doente por conta da destruição que o MBL apoiou, apóia e venera. Aceitar o papel de coadjuvante do MBL, como estão fazendo algumas celebridades, partidos e esquerdistas assanhados para se jogar no colo da direita mais radical, é por isso uma traição gravíssima ao povo brasileiro, que tanto vem sofrendo pela adoção das políticas que o MBL chancela.

É virar as costas para o sofrimento real do povo. É, de novo, fazer os acordos por cima (visando às eleições do ano que vem), enquanto o povo vê a palavra Democracia sendo despojada da companhia dos conceitos de direitos e de justiça social.

Esta é a melhor forma de trair a Democracia —fingindo defendê-la. Não se luta pela Democracia com quem a depenou de seu imperativo mais nobre e elevado, que é o bem-estar de todo um povo, o povo brasileiro.

Por isso, Jornalistas Livres consideram um erro a participação das forças democráticas no ato deste domingo. O que precisamos é de união com o povo, para refundar o Brasil. E não de mais ilusões, mentiras e falsificações. Fora Bolsonaro!