“Não sei se chego com saúde e renda”: o ano novo de quem perde o auxílio emergencial

Atualizado em 22 de dezembro de 2020 às 11:41
Estima-se que as parcelas pagas, fizeram com que mais de 15 milhões de pessoas saíssem da extrema pobreza, ajudando a sustentar milhares de famílias desempregadas. – Foto: Divulgação / PMF

Originalmente publicado em BRASIL DE FATO

Por Rodolfo Santana

Atualmente, mais de 126 milhões de brasileiros receberam o auxílio emergencial. O valor foi uma iniciativa pensada pelo poder legislativo e, inicialmente, o valor pago foi de R$ 600,00, distribuído entre famílias de baixa renda durante a pandemia. Estima-se que as parcelas pagas, fizeram com que mais de 15 milhões de pessoas saíssem da extrema pobreza, ajudando a sustentar milhares de famílias desempregadas. Com o encerramento do pagamento dos valores, em união com a incerteza de superação da pandemia e a falta de iniciativas de suporte concretas por parte do governo federal, milhões de pessoas podem passar sérias dificuldades, como fome e desemprego em massa.

Necessidade

A estudante Ravena Alves mora com seu companheiro a algum tempo. Como ambos recebem o auxílio, as contas do mês são seguras pelos valores recebidos. “É essencial esse auxílio pra nossa renda, visto que eu e meu companheiro estamos sem trabalhar, ele terminou a graduação agora e tá desempregado e eu estou cursando ainda. Aí faz um tempo que estamos morando juntos e não temos ajuda mais de nossas famílias com as despesas de casa. Temos várias despesas como alimentação, energia, água, internet, gasolina. Então de certa forma, o auxílio é o que mantém a gente bem.” conta a estudante.

Para a artesã Darla Natanaele Barbosa, tinha com principal fonte de renda a venda de seus trabalhos artesanais em feiras e praças da região do Cariri. Com a pandemia, a trabalhadora teve que suspender suas vendas, dependendo da renda do auxílio emergencial. “Com a suspensão do meu trabalho eu fiquei sem ter como manter em dia todas as contas, como aluguel, feira, contas de água e luz e outras necessidades básicas. Com o auxílio eu consegui me manter, mesmo com dificuldade, mas garantindo o básico para a sobrevivência. Mesmo com o baixo valor, considerando o aumento crescente do dólar e de um modo geral afetando na economia global, o auxílio supre as minhas necessidades mais importantes, como alimentação e moradia”. explica Darla.

Em estudo publicado em outubro, a Fundação Getúlio Vargas concluiu que o auxílio emergencial contribuiu para a redução temporária da pobreza no país, com mais de 15 milhões de pessoas que saíram da pobreza extrema, uma queda de 23,7% até agosto de 2020. Na região nordeste, a redução da pobreza chegou a 30,4%. Os dados foram feitos em comparação ao ano de 2019, sem a situação pandêmica que o mundo enfrenta atualmente.

Desemprego

Em contra partida à redução dos índices de pobreza extrema, as taxas de desemprego ficaram em alta em agosto, alcançando o maior patamar da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) covid-19, iniciada em maio. Dados divulgados pelo Pnad covid-19 em setembro, apontam que essa alta acompanha o aumento na população desempregada na quarta semana de agosto, representando cerca de 1,1 milhão a mais de pessoas à procura de trabalho no país, totalizando 13,7 milhões de desempregados.

O estudante fortalezense Felipe Chaves, passa por um período de desemprego, dependendo do auxílio para pagar contas essenciais, como água, energia e alimentação. Para ele, o auxílio é uma importante fonte de renda que ameniza a fragilidade econômica de quem dele depende. “As ofertas de emprego parecem que estão diminuindo, com a falência de muitas empresas, grandes e pequenas. A manutenção do auxílio é interessante para as pessoas que não tem uma renda fixa como é o meu caso. Essa indefinição complica para que nós possamos falar e viver nessa situação.” diz Felipe.

Assim como Felipe, o torneiro mecânico Carlos Freitas, tem de vir cotidianamente à Juazeiro do Norte em busca de trabalho. Natural de Jati, município distante 87 km de Juazeiro do Norte, uma viagem de cerca de 90 minutos. Com o anúncio do fim do auxílio, Carlos se antecipou em procurar mais serviços em municípios vizinhos. “Estava conseguindo me manter aos poucos com esse dinheiro do auxílio, mas agora com essa suspensão, tenho que ficar atrás de trabalho em todo lugar. As vezes consigo um pouco de dinheiro, mas os gastos com as viagens acabam por não me dar muito lucro, então apenas estou sobrevivendo. Sinceramente, não sei como vai ser meu fim de ano, nem se chego com saúde e renda em janeiro.” desabafa Carlos, contando que sua família é composta por quatro pessoas, sua esposa e três filhos, todos menores de idade.