“Não tinha nenhum santo”: se depender das autoridades, cabeças continuarão rolando em presídios. Por Sacramento

Atualizado em 5 de janeiro de 2017 às 8:49
O governador José Mello e o ministro Moraes
O governador José Melo e o ministro Moraes

 

Se depender dos discursos de autoridades responsáveis por dar uma resposta à sociedade depois do massacre de 56 presos em Manaus, cabeças continuarão a rolar nas unidades prisionais brasileiras.

Das bocas do governador do Amazonas e dos ministros Raul Jungmann e Alexandre de Moraes saíram obviedades mais adequadas para conversa de elevador. Só perdem para o silêncio do presidente Temer a respeito da barbárie que correu o mundo.

“Não tinha nenhum santo”, disse o governador José Melo (Pros), como se a ficha criminal das vítimas e dos algozes do motim atenuasse a responsabilidade do Estado.

O ministro da Defesa Raul Jungmann usou toda a expertise inerente ao cargo para dizer que foi um “desastre anunciado”, assim como seu colega da pasta da Justiça ao afirmar que o sistema prisional é “um barril de pólvora”. Aplausos para tanta genialidade…

Como os comentários dos três senhores, as propostas apresentadas para enfrentar o problema são um apanhado de lugares-comuns com foco apenas na repressão e no encarceramento.

José Melo defende a criação de um fundo nacional para combater a entrada de drogas no país, enquanto o ministro da Justiça anunciou a liberação de R$ 1,8 bilhão para a construção de 20 mil vagas em presídios em todo o país.

São medidas no máximo paliativas, mas que eles enxergam como soluções definitivas. Mas é o mesmo que tentar curar uma fratura ministrando analgésico. A dor pode até passar por uns instantes, mas se o osso não for imobilizado ou corrigido com cirurgia o paciente vai sofrer dores ainda piores e ficar com sequelas.

Por outro lado, ações ousadas e de longo prazo como a regulamentação do consumo de entorpecentes e o enfrentamento das causas sociais da violência, que poderiam diminuir em definitivo a população carcerária e enfraquecer as facções criminosas, não estão no repertório desses burocratas arcaicos.

No fundo, eles estão mais preocupados com as próprias carreiras do que em baixar os índices de criminalidade e aumentar os indicadores sociais do Brasil.

Em duas semanas, ou talvez em menos tempo, o massacre de Manaus sairá do noticiário. As prisões continuarão horrendas, superlotadas e propícias para as mais diversas práticas criminosas. Detentos morrerão diariamente nas masmorras sem que isso seja noticiado pela imprensa, até que uma nova matança provoque comoção social e leve ao noticiário uma enxurrada de obviedades vindas de quem deveria fugir do senso comum.