“Não vou ser o ‘bocão’ para denunciar”, disse Bolsonaro após reunião com Roberto Jefferson, hoje seu aliado, sobre o mensalão

Atualizado em 21 de abril de 2020 às 13:10

Escalado por Bolsonaro para cooptar o centrão e se tornar uma pedra no sapato de Rodrigo Maia, Roberto Jefferson agora tem soltado suas costumeiras frases de efeito.

“Para derrubar Bolsonaro, só se for a bala”, declarou ontem.

Em 2004, entretanto, Bolsonaro e Jefferson estavam na mesma sigla, o PTB, e divergiram sobre denunciar o “mensalão”, algo que Jefferson acabou fazendo.

Segundo matéria publicada na Folha de S. Paulo em 12 de junho de 2005, a “proposta” da mesada foi lançada por Roberto Jefferson, então deputado federal, para seus colegas de partido.

Em depoimento ao jornal, o deputado Pedro Fernandes (MA) disse que Jefferson “pôs em discussão” a possibilidade de receberem a mesada, mas foi evasivo.

“Eu não aceitei. O que que vocês acham?”, disse Jefferson. O resto é história, o petebista então fez a denúncia do mensalão.

Antes, porém, novamente consultou sua bancada. O então deputado Jair Bolsonaro foi contra a caguetagem e se referia ao mensalão como “boato”.

(…)

O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), que há um mês deixou o PTB, tem uma versão mais incisiva sobre essas advertências de Roberto Jefferson. “Ele ameaçou denunciar o “mensalão”. Disse assim, “se tentarem cooptar deputado meu em cima de mesadas, eu vou denunciar'”, afirmou o deputado.
O ex-petebista disse que, no ano passado, foi procurado por petistas, cujos nomes preferiu não revelar, com a proposta de integrar a base aliada em troca de poder indicar um cargo para a administração do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. O deputado disse ter recusado a oferta.
(…)
Sobre o “mensalão”, Bolsonaro afirmou que, desde o ano passado correm boatos do gênero nos corredores do Congresso Nacional: “Desde que Lula assumiu, tem esse boato aqui dentro. Mas eu não vou ser o “bocão” para denunciar quem está recebendo”.
De acordo com Osmânio Pereira e Bolsonaro, os avisos de Jefferson de que não aceitaria o “mensalão” teriam ocorrido logo após a revista “Veja” ter divulgado, em setembro de 2004, que o PTB e o PT fecharam um acordo pelo qual os petistas dariam R$ 10 milhões ao partido de Jefferson em troca de apoio nas eleições municipais. Na época, Jefferson afirmou que o pedido de ajuda financeira foi feito apenas para a campanha de Recife (PE), no valor de R$ 1,5 milhão. O PT não teria cumprido a suposta promessa.