Pablo Escobar teria orgulho de ver como o PCC cresceu em SP sob Alckmin. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 16 de janeiro de 2017 às 9:51
Alckmin e Ney Santos, prefeito eleito do Embu que estava foragido, suspeito de lavar dinheiro do tráfico de drogas do PCC
Alckmin e Ney Santos, prefeito eleito do Embu que estava foragido, suspeito de lavar dinheiro do tráfico de drogas do PCC

 

José Padilha, produtor executivo da série “Narcos”, aponta que só o realismo fantástico, criação de Gabriel García Márquez, é capaz de explicar uma história como a de Pablo Escobar na Colômbia.

Os elementos centrais da trajetória de Escobar, no entanto, não são nada estranhos para nós. Nada. Basta ver o que acontece em São Paulo com o PCC e seu chefe mais emblemático, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola.

Escobar criou um império montado no tráfico de cocaína. Começou a cair quando resolveu sair de sua, digamos, zona demarcada para atender sua enorme ambição: ser político.

Deu casa, comida e dinheiro aos pobres. Fez um bairro. Elegeu-se deputado. Forçado a renunciar, passou a empreender uma guerra contra o estado.

Mandou matar Carlos Galán, o candidato à presidência que advogava a extradição de traficantes para os EUA. Armou atentados a bomba em várias localidades. Um avião foi explodido.

A paz foi restabelecida quando Escobar chegou a um acordo com o presidente eleito César Gaviria. Escobar concordava em ir para a prisão, desde que a construísse. Ergueu “La Catedral”, uma espécie de resort, guardado por policiais pagos por ele, de onde continuou mandando no crime.

Saiu de lá fugido, para morrer meses depois.

Agora pense no vídeo que viralizou com imagens do aniversário de 22 anos do PCC num presídio feminino.

De um palco, uma das detentas organiza a bagunça com um microfone. Ao seu lado, fileiras de cocaína dispostas em bandejas. “Ó, nós vamos fazer duas filas aqui. Primeiro nós vai botar a cachaça, pouquinho, porque é pouco. Depois nós vamos dar o baseado. Cada baseado para três fumar.”

O PCC é financiado, sobretudo, pelo comércio de drogas, embora haja também roubos de cargas e assaltos a bancos. Controla, segundo os dados disponíveis, 90% das prisões paulistas.

O acerto entre Gaviria e Escobar não é excepcionalidade colombiana. Recentemente, vazou o depoimento de um delegado sobre o encontro entre representantes do então secretário de Segurança Pública de SP com Marcola no presídio de Presidente Bernardes.

O ano era 2006. A intenção era pôr fim a uma onda de ataques que incluiu mortes de PMs e ônibus incendiados. O ex-governador Claudio Lembo admitiu que autorizou. Ele substituía Geraldo Alckmin, que renunciara para concorrer ao Planalto.

Na reunião, teria sido negociada a rendição dos bandidos. A integridade física deles, porém, precisava ser garantida. Alckmin negou tudo. “São Paulo não tem acordo nenhum com crime nenhum. É uma coisa disparatada”, reagiu, indignado.

O fato é que Marcola, desde então, foi internado apenas uma vez no chamado Regime Disciplinar Diferenciado, extremamente rigoroso.

Volta e meia, o governo paulista dá sinais de que está combatendo a organização. Em 2014, tornou-se público um plano de fuga mirabolante de Marcola com a presença de helicópteros e de um avião (!).

A extraordinária inteligência da polícia de SP melou o negócio. Até o Jornal Nacional enviou repórteres para cobrir o sensacional evento — que, por óbvio, ficou na saudade.

Em outubro de 2013, o MP revelou que escutas telefônicas davam Alckmin como jurado de morte. Um preso falava que Geraldo estava “decretado”. Nem assim, veja só, Marcola recebeu qualquer punição disciplinar na cana.

A atuação de forças dos EUA, que tiveram papel preponderante na caçada a Escobar, foi aventada em SP. Segundo vazamentos do Wikileaks, Serra, quando assumiu o governo em 2007, teve uma reunião com o embaixador americano Clifford M. Sobel em busca de orientação sobre como lidar com os atentados em estações do metrô atribuídos ao PCC.

Marcola e as demais lideranças do PCC levam sobre Pablo Escobar uma enorme vantagem: eles sabem seu lugar e não fogem ao combinado. Não é necessário.

A facção esteve à frente das crises de segurança pública de 2001, 2006 e 2012. Só cresce de tamanho depois de cada uma delas.

Há nove anos, em depoimento à CPI do Tráfico de Armas, um deputado questionou Marcola sobre as outras pessoas que faturam em cima de suas atividades. “Tanta gente ganha dinheiro às nossas custas, senhor…”, afirmou. “Usam a gente, os próprios políticos, o senhor sabe disso”.

Como diria Wagner Moura, Pablito teneria mucho a aprender com Marcuela.

 

Escobar
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