Negacionista que mentiu na CPI sobre chuvas no RS faz palestras bancadas pelo agronegócio

Atualizado em 10 de setembro de 2023 às 19:48
Luiz Carlos Molion no site especializado Notícias Agrícolas

No último dia 4 de setembro, o meteorologista Luiz Carlos Molion, professor aposentado da UFAL (Universidade Federal de Alagoas), compareceu à CPI das ONGs e, falando sobre as mudanças climáticas causadas pela ação do homem, negou que exista o “Super El Niño”.

Ele foi convidado do senador Marcio Bittar (União Brasil-AC). Segundo Molion, a mídia fez um “alarmismo incrível” com a possibilidade de chuvas e “não teremos o Super El Niño”, tranquilizando o “pessoal do Norte” pela ausência de seca e garantindo “aos moradores da região Sul que não vai ter o excesso de água”. Essa afirmação se deu na véspera dos acontecimentos no Rio Grande do Sul que registraram, até o momento, 44 mortes.

Associações do agronegócio estão bancando conferências dos chamados “negacionistas climáticos”. Dois nomes são recorrentes: Molion e Ricardo Felício. Somente no ano de 2019 aconteceu um circuito universitário de 11 palestras com o nome “Aquecimento global, mito ou realidade?” As palestras ocorreram em nove faculdades e dois sindicatos no Mato Grosso. Todas elas foram bancadas pela Aprosoja Mato Grosso, a associação de produtores de soja e milho do Estado, o maior do Brasil.

Entre as entidades financiadoras das palestras de Molion estão a Cooperativa Agrícola de Unaí, em Minas Gerais, a Associação Avícola de Pernambuco, a Associação de Engenheiros e Arquitetos de Itanhaém, com o patrocínio oficial do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo, a Central Campo, uma empresa especializada na venda de insumos agrícolas, a Feira Agrotecnológica do Tocantins, do governo do Tocantins, a feira de Agronegócios da Cooabriel, uma cooperativa de café com atuação no Espírito Santo e na Bahia, e o sindicato rural de Canarana, no Mato Grosso. Nestas palestras, ele costuma afirmar, contrariando a ciência, que o “aquecimento global é uma farsa, é um mito”.

Em uma audiência pública no fim de 2009, Aldo Rebelo, então deputado federal por São Paulo pelo PCdoB e relator do Novo Código Florestal Brasileiro, convidou Molion para dar seu ponto de vista — que ajudou a embasar o parecer do deputado. Na ocasião, Molion disse que o dióxido de carbono “não controla o clima global”.

Molion diz que dá 50 palestras por ano, “a grande maioria, 80%, 85% para o agronegócio”, cobrando R$ 4 mil por cada uma. Barros, da Central Campo, afirmou que foi este o valor que pagou pela palestra do professor. Porém, os valores captados com esse tipo de desserviço ultrapassam tais valores. De acordo com a Deustsche Welle, em fevereiro de 2014, pouco antes de se aposentar da UFAL, ele foi contratado pela Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Tocantins (SEMADES) para prestar consultoria na elaboração do Atlas Solar do Estado do Tocantins.

Um dos grandes parceiros de Molion é o também meteorologista Felício, demitido da USP por faltar ao trabalho durante a pandemia, e, num vídeo publicado em 2021, na plataforma Rumble, de extrema-direita, chamar a pandemia de “fraudemia” e as vacinas de “remedinhos experimentais”. O pesquisador disse, sem respaldo científico, que “os objetivos [de quem fala em mudanças climáticas] são congelar os países em desenvolvimento, relata a BBC. Em 2019, foi convidado, junto de Molion, para darem uma palestra no Senado Federal.