Sobre os mendigos que “deviam virar ração pra peixe” e os “negros preguiçosos”

Atualizado em 17 de outubro de 2014 às 17:23

O programa “The Daily Show” faz um tipo de jornalismo misturado com humor sem parentesco no Brasil (esqueça o CQC). Quem comanda é Jon Stewart, um nova-iorquino que passou por todo o circuito de stand up antes de virar apresentador. Apresentou o Oscar e ganhou 10 prêmios Emmy por matérias como a exibida há poucos dias.

Um dos entrevistadores, Aasif Mandvi, foi conversar com um membro do Partido Republicano, Don Yelton, sobre uma nova lei que obriga os eleitores a se identificarem na Carolina do Norte. O Departamento de Justiça está processando o estado por considerar a lei racista.

Mandvi acabou conseguindo fazer com que os republicanos pedissem a saída de Yelton. Sem forçar a mão, apenas deixando-o falar, Yelton deu um punhado de declarações inacreditáveis. “Os negros preguiçosos querem que o governo lhes dêem tudo”, disse.

Mandvi, que é de ascendência indiana, se mostrava entre surpreso e animado em deixar Yelton falar à vontade. “Um de meus melhores amigos é negro”, afirmou Yelton. “Você é meu amigo!”, declarou, olhando com condescendência para o entrevistador, que está longe do padrão ariano.

Mandvi respondeu: “Você sabe que nós podemos ouvi-lo, certo?” Yelton, um tipo clássico do Sul americano, ainda reclamou de não poder mais usar a palavra “nigger”. E que, apesar do interlocutor não se parecer com ele, fazia questão de trata-lo como uma pessoa normal. Etc etc. Nem Bolsonaro seria capaz de uma catástrofe verbal desse nível. Quer dizer, Bolsonaro seria, sim.

Yelton foi convidado pelo Partido Republicado a renunciar. “Se ele não se mostrar disposto a isso, nós vamos procurar maneiras de removê-lo de toda e qualquer posição de qualquer nível no estado”, dizia o comunicado do partido. Ele vazou por conta própria.

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Mas não precisamos ir até Bolsonaro. Em Piraí, município do Rio de Janeiro, o vereador José Paulo Carvalho de Oliveira, o Russo, do PT do B, fez um discurso inesquecível na Câmara. Tendo como mote os 25 anos da Constituição, pôs-se a desfiar uma ladainha que lembrou os grandes momentos de Goebbels bêbado.

Depois de elogiar um projeto de lei que proíbe mendigos de votar (?), mandou bala: “Não tem de votar, não. Devia virar ração pra peixe. Deveria haver pena de morte. Ah, vai matar inocente… Ainda que matasse, ia morrer muito menos inocente do que morre hoje”. Também defendeu o fim da censura. O resto você assistiu no vídeo. A certa altura ele fala em “bom senso”, aliás.

O pronunciamento foi no dia 8. O presidente da Casa, Wilden Vieira da Silva, o Prico (PSD), estava na sessão. O prefeito só se manifestou depois que o vídeo tornou-se viral. Ontem, o delegado determinou uma investigação para averiguar se aquilo foi apologia ao crime. Oliveira chegou a falar que errou na “colocação das palavras”.

Batata: uma manifestação foi marcada na frente da Câmara. As pessoas comparecerão de roupas rasgadas. E o PT do B? Bem, o PT do B nada. Oliveira continua firme em seus quadros e vai concorrer no próximo pleito. E vida que segue.