Nelson Wilians usou testa de ferro e R$ 22 milhões para barrar funerária de luxo em SP

Atualizado em 8 de novembro de 2025 às 11:49
O advogado Nelson Wilians dentro de jatinho. Foto: reprodução

O advogado Nelson Wilians pagou R$ 22 milhões para impedir que uma funerária de luxo se instalasse ao lado de sua mansão no Jardim Europa, bairro nobre de São Paulo. A transação, realizada em 2020, envolveu uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas e o empresário Maurício Camisotti, apontado pela Polícia Federal como intermediário do negócio, conforme informações da colunista Natália Portinari, do UOL.

No auge da pandemia, Wilians descobriu que a casa vizinha à sua, de 1.422 metros quadrados, estava prestes a ser vendida a um grupo de investidores do setor funerário por R$ 15 milhões. O imóvel pertencia aos sobrinhos do empresário Abílio Diniz. Para evitar que o projeto fosse adiante, o advogado entrou em contato com os proprietários e se ofereceu para comprar o casarão.

Incomodada com a interferência, a família Diniz aumentou o valor para R$ 22 milhões — proposta que Wilians aceitou. No entanto, ele informou que o imóvel seria registrado em nome de outra pessoa: o empresário Maurício Camisotti, da área de saúde e seguros. Documentos mostram que a compra foi feita por meio de uma offshore de Wilians nas Ilhas Virgens Britânicas.

Intermediação e offshore

Em um contrato de gaveta firmado com os quatro filhos de Alcides dos Santos Diniz, irmão de Abílio, Wilians definiu que o imóvel ficaria no nome de Camisotti e de sua mulher, Cecília Montalvão Simões. Em seguida, o bem seria transferido para a empresa Oral-Dent, cujas cotas seriam repassadas à Irmãos Wilians Empreendimentos e Participações S.A., administrada por Anne Wilians, esposa do advogado.

A operação foi concluída em novembro de 2020. Poucos meses depois, em abril de 2021, a casa foi demolida e o terreno virou um gramado murado ao lado da residência de Wilians. Oficialmente, a propriedade ainda está registrada em nome de Camisotti e de sua esposa.

Terreno comprado por Wilians por meio de offshore, que hoje serve como um gramado
Terreno comprado pelo advogado Nelson Wilians por meio de offshore, que hoje serve como um gramado. Foto: Google/Reprodução

Relações financeiras sob investigação

Wilians e Camisotti estão sendo investigados pela Polícia Federal na Operação Sem Desconto, que apura fraudes em descontos indevidos do INSS. A compra da casa passou pela offshore de Wilians, com Camisotti atuando como intermediário.

O advogado de Wilians, Santiago Schunck, afirmou que “não há qualquer ilegalidade, irregularidade ou incompatibilidade jurídica nas transações mencionadas, realizadas entre entes privados, de forma transparente, formal e dentro dos parâmetros legais e comerciais vigentes”.

Já Camisotti declarou em nota que seus negócios com Wilians “são de caráter privado, legítimo, estão documentados e consistem em empréstimos pessoais e na compra de um imóvel”, negando qualquer ligação com suas atividades empresariais.

Negócio com os herdeiros Diniz

O casarão era de propriedade da Bradish, empresa dos filhos de Alcides Diniz, irmão de Abílio. A companhia enfrentava uma ação por dívida tributária de R$ 33 milhões com a União. Por isso, o contrato previa que os Diniz indenizariam Wilians e Camisotti caso houvesse penhora judicial sobre o bem.

O pagamento de R$ 22 milhões foi dividido entre os quatro herdeiros — R$ 4,75 milhões para cada um — e o corretor recebeu comissão de R$ 1,3 milhão. A dívida da Bradish com a União foi posteriormente renegociada, mas ainda soma R$ 69 milhões, conforme dados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional.

Trecho do contrato prevendo a venda da casa da família Diniz para offshore de Wilians
Trecho do contrato prevendo a venda da casa da família Diniz para offshore de Wilians. Foto: Reprodução

Alertas e investigações

O nome de Camisotti já havia aparecido em outras investigações, como a CPI da Covid, por suposta participação na compra da vacina Covaxin. Em 2024, após a Operação Sem Desconto, ele tentou convencer o BTG Pactual a autorizar a transferência de 40% de seu patrimônio para criptomoedas, segundo comunicação do banco ao Coaf.

O BTG informou que Camisotti declarou ter crédito de R$ 35 milhões em relação a Nelson Wilians no Imposto de Renda de 2023. Também reportou ao Coaf que ele tentou justificar pagamentos recebidos de uma offshore de Wilians, mas se recusou a apresentar documentação.

Além da compra da casa, Wilians repassou R$ 15 milhões a Camisotti entre 2016 e 2022. A defesa do advogado sustenta que “os negócios ocorreram antes de qualquer suposto vínculo do Sr. Camisotti com o INSS” e que “toda a documentação já foi apresentada à Justiça, comprovando a plena licitude e regularidade das operações”.

O empresário Mauricio Camisotti. Foto: Reprodução