“Nem rir, nem chorar, mas entender”: o filósofo citado por Boff em sua resposta sábia à fúria de Ciro. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 2 de novembro de 2018 às 13:15
“Nem rir nem chorar, procurar entender”

A resposta de Leonardo Boff a Ciro Gomes é uma lição que Ciro ganharia muito se aprendesse.

A essa altura do campeonato, porém, e conhecendo o velho Gomes, é difícil crer que assimile. 

Em entrevista à Folha, o ex-candidato à presidência da República xingou Boff de “bosta” e “bajulador, com todo tipo de condescendências”.

Boff devolveu as ofensas com classe, sabedoria e humildade no mesmo jornal:

Considero Ciro Gomes uma das maiores e imprescindíveis lideranças do Brasil. Ele é importante para a manutenção da democracia e dos direitos sociais. Ele ajuda a alargar os horizontes dos problemas que enfrentamos com o seu olhar próprio.

O que faz e diz é dito e feito com paixão. Entretanto, a paixão necessária nem sempre é um bom conselheiro. Creio que foi o caso de sua crítica a mim chamando-me com um qualificativo que não o honra.

Minha posição é dos filósofos, dentre os quais me conto: nem rir nem chorar, procurar entender. Entendo seu excesso a partir de seu caráter iracundo, embora na entrevista afirma que “tem sobriedade e modéstia”. (…)

Sobre o “mensalão” e o “petrolão” sempre fui crítico. Mostrei-o em meus artigos publicados no Jornal do Brasil online, onde escrevi, semanalmente, durante 18 anos. Todos eles estão no meu blog onde pode conferir (www.leonardoboff.wordpress.com).

Boff está citando o racionalista Baruch Espinoza, nascido em Amsterdã no século 17, filho de judeus fugidos da Inquisição portuguesa.

Par ele, “o ódio é a tristeza acompanhada da ideia de uma causa exterior”. Que maravilha isso.

Espinoza fala o seguinte em sua “Ética”:

Procurei escrupulosamente não rir, não chorar, nem detestar as ações humanas, mas entendê-las. Assim, não encarei os afetos humanos, como são o amor, o ódio, a ira, a inveja, a glória, a misericórdia e as restantes comoções do ânimo, como vícios da natureza humana, mas como propriedades que lhe pertencem. (…)

Uma criancinha acredita apetecer, livrementre, o leite; um menino furioso, a vingança; e o intimidado, a fuga. Um homem embriagado também acredita que é pela livre decisão de sua mente que fala aquilo sobre o qual, mais tarde, já sóbrio, preferiria ter calado.

Igualmente, o homem que diz loucuras, a mulher que fala demais, a criança e muitos outros do mesmo gênero acreditam que assim se expressam por uma livre decisão da mente, quando, na verdade, não são capazes de conter o impulso que os leva a falar.

Mais Boff e menos Ciro, Brasil.