Nenhuma arena da Copa se compara à rua Javari

Atualizado em 11 de junho de 2013 às 15:28

Cadeiras acolchoadas e jogos ruins? Bom mesmo é ir a um estádio fuleiro e extravasar seus amores e seu repertório de palavrões.

Ódio eterno ao futebol moderno
Ódio eterno ao futebol moderno

Quanto tempo irão durar esses estádios (bisonhamante chamados de “arenas”) após o término da Copa do Mundo?

Arquitetonicamente são corretíssimos. As imagens que proporcionam às TVs são dignas de Playstation. Mas alguém se sentiu em casa vendo os dois amistosos da seleção? Foi possível a identificação de “torcida brasileira” com aquilo que foi visto? É daquele jeito que torcemos?

Não. E não gostei.

Cadeiras acolchoadas, pessoas comportadamente sentadas e aquelas comemorações chacoalhando pompons ou batendo bisnagas infladas semelhante ao que ocorre em países como o Japão são muito bacanas mas nem de longe a nossa cultura.

Foram espetáculos tristes. Lembraram-me gente simples em meio a festa chique que passa o tempo todo se segurando para não cometer gafes e assim que a cerimônia acabar irá arrancar os sapatos apertados e voltar a ser o que é.

Está se fazendo um esforço enorme para transparecer um país organizado, limpo, de povo bem educado e com comportamento irrepreensível quando na verdade não se pode errar uma rua no caminho do estádio pois, dependendo da área, levará um tiro na cabeça (aliás, as favelas não estavam “pacificadas”?).

Se isso acontece com cariocas, como garantir que não ocorrerá com turistas? Se um paulista que não tiver dinheiro para entregar aos bandidos será queimado vivo, que dizer para alguém que nem entenderá a língua do meliante?

Não sou contra o progresso nem civilidade, mas não era nos estádios que a atenção a essas matérias deveria se concentrar e muito menos pular etapas. Não estamos nesse estágio de prescindir de uma grade de proteção entre torcida e gramado. Após o mundial, quanto tempo irá levar para que reformas sejam feitas? Irão esperar alguma tragédia ou isso será feito já na primeira rodada do campeonato seguinte?

E, se querem saber, acho bom que reverta para o padrão antigo.

Até porque, bom mesmo é poder ir a um estádio fuleiro e extravasar seus amores e seu repertório de palavrões.

Nada contra o conforto, mas acredito que o futebol não seja um espetáculo à altura dessas “arenas”. Não que o futebol seja ruim hoje. Está como sempre foi e, portanto, o valor do ingresso não garante nenhuma contrapartida dos protagonistas, seja numa casa de show como essas “arenas” ou no Canindé de sempre.

Você irá pagar para ver algo que, embora ensaiado a semana toda, poderá não dar muito certo. Vai sair de lá vendo a derrota de seu time ou um pênalti perdido. Muitos dirão que a graça do futebol está exatamente aí e concordo. Plenamente. Por isso é que acredito que o imponderável deva permanecer no futebol.

Essa elitização com preços absurdos e comportamentos suiços pode acarretar num esforço para que o jogo se torne “agradável”, “compensador” e nada seria mais antifutebol que isso. O preço médio dos ingressos no Maracanã foi de R$ 150. No estádio Olímpico (“arena Grêmio”) os valores alcançavam os R$ 220 e R$ 300 nas cadeiras Gold (chique não? Gold !) e singelos R$ 650 para o camarote.

Por esse preço, pago para assistir algum músico que tenha treinado durante 25 anos e que não cometerá erro algum durante a apresentação. Por bem menos que isso vejo um filme que consumiu anos de elaboração e tecnologia de ponta e cujos créditos no final possuem mais gente que a torcida do Juventus. E todos receberam, não foram pagantes.

Assistir a um jogo sentado? Não consigo nem quando estou na sala de minha casa. Dependendo da tensão da partida fico em pé e pulando nos momentos de agonia. Dou um bico no sofá diante de um erro cara a cara com o goleiro de Alexandre Pato ou corro em volta da mesa depois de um gol de Paulinho.

Devem ser muito confortáveis as poltronas dessas “arenas” e dignas de shows do U-2, mas bom mesmo é uma arquibancada de cimento onde se possa pular e um futebol puro. Cheio de imprevisibilidades.