Nenhuma panela vai bater por causa do apartamento milionário do braço direito de Alckmin. Por Mauro Donato

Atualizado em 2 de março de 2016 às 22:59
Alckmin e Edson Aparecido
Alckmin e Edson Aparecido

 

Enquanto considerável parcela da população fica escandalizada diante da notícia da existência de dois pedalinhos no “sítio de Lula”, o chefe da Casa Civil do governo Alckmin, Edson Aparecido, é investigado pela compra de um imóvel em bairro nobre da cidade de São Paulo (a Vila Nova Conceição tem o metro quadrado mais caro da cidade), pelo qual declarou um valor escandalosamente baixo.

Enquanto na escritura o imóvel está lançado por R$ 1,07 milhão, sendo que para especialistas de mercado passaria dos R$ 2 milhões, o número um de Geraldo Alckmin declarou para a receita federal ter pago R$ 620 mil. Menos da metade do valor de mercado. Negocião.

Edson Aparecido está sendo investigado pelo Ministério Público por enriquecimento ilícito, incompatibilidade entre renda e patrimônio e improbidade administrativa.

Fato interessante, e muito importante, é que Aparecido adquiriu este apartamento de Luis Albert Kamilos, dono de uma construtora que tinha contratos com o governo do PSDB.

Vamos lá: apartamento, facilidades, construtora parceira. Esse enredo remete a alguma coisa? Já viu esse filme antes? Pois então, mas enquanto sobre alguns pesa imensa suspeita, sobre outros nada se fala.

É essa hipocrisia a respeito do combate à corrupção pelos auto-declarados homens de bem – quando na verdade não passam de homens de bens não declarados – que precisa ser questionada.

Por que a mesma turma que fica abismada pela compra de uma canoa de alumínio e bate panelas por conta do “apartamento de Lula” no Guarujá não esboça nenhuma reação diante de um evidente caso de sonegação como esse?

Claro, porque a maioria nem fica sabendo desses processos. Tudo o que envolve tucanos é blindado.

Enquanto fazem alarde a cada vez que encontram um papel de bala chupada pela vizinha do primo do zelador do prédio de Lula que confirmaria definitivamente seus crimes praticados de forma sistemática, o mesmo Ministério Público de São Paulo acusa empresas de participarem de um cartel que fraudava licitações no metrô e trens (e que desviou quase R$ 2 bilhões) que vem desde o governo José Serra. Só as empresas? Por que passa batido pelo governo tucano?

Quando se trata da Petrobrás, o governo do PT é o mentor, é o autor intelectual do esquema, é o chefe da quadrilha, é o maior estrategista e principal beneficiado pelo propinoduto. Quando envolve o PSDB é o inverso. São as empresas que atuaram sozinhas e ‘induziram’ o governo a erro, ao prejuízo. Ele é apenas vítima.

O episódio envolvendo a compra do apartamento de Edson Aparecido (assim como a mansão dos Marinho em Paraty) é um retrato fiel de como a grande mídia trata de forma distinta duas questões idênticas. Para muitos, isso pode justificar o comportamento dos batedores de panela.

Ignoram o que se passa no mundo além do que veem na TV. Não justifica. Os meios pelos quais pode-se obter informação hoje são inúmeros. Não se trata, portanto, de desinformação e sim de acreditar que um pedalinho no sítio é inadmissível, mas um imóvel subfaturado na Vila Nova Conceição tudo bem.