Neoliberalismo enfraquece a consciência de classe, afirma economista britânico. Por Cris Rodrigues

Atualizado em 17 de dezembro de 2019 às 6:22
Em entrevista ao Brasil de Fato, professor destacou que a busca pela acumulação de capital leva ao aumento da informalidade / Vanessa Nicolav/Brasil de Fato

Publicado originalmente no site Brasil de Fato

POR CRIS RODRIGUES

A crise do capitalismo global é uma crise de superacumulação. É o que defende Andreas Bieler, professor de Economia Política na Universidade de Nottingham, no Reino Unido.

Em entrevista ao Brasil de Fato, ele explicou que há atualmente, nas mãos de poucos capitalistas, um excesso de capital privado em busca de realizar novos investimentos para gerar mais lucro. Isso é o que caracterizaria a superacumulação – de acordo com a definição do geógrafo britânico David Harvey.

O professor questionou a crença de que o neoliberalismo seria uma solução para esse período. “É preciso perguntar para quem”, provocou. “Do ponto de vista capitalista, o neoliberalismo funciona bem, porque enfraquece os trabalhadores e permite encontrar novas maneiras de acumular capital. Mas, da perspectiva das pessoas, não funciona”, afirmou.

Para questionar a política de privatizações, uma característica dos regimes neoliberais, Bieler citou o exemplo da Grécia, onde as consequências foram o empobrecimento da população e queda de qualidade dos serviços.

A crise atual, segundo o economista, tem origens na financeirização e na especulação que se intensificaram a partir da década de 1970 nos países do norte global. Nos últimos anos, o processo de superacumulação levou os capitalistas à busca por mais oportunidades de investimento. O cenário atual de precarização da classe trabalhadora é, para ele, uma consequência desse ciclo.

“Uma das formas de acumular capital é fazendo o trabalho ficar mais barato, o que é feito pela informalidade. Você transfere o risco da empresa para o indivíduo”, disse. Uma das consequências desse processo, segundo ele, é um enfraquecimento da consciência de classe, porque os trabalhadores ficam mais inseguros e têm mais dificuldade de se organizar coletivamente.

Sem organização e com a qualidade de vida em queda, trabalhadores tornam-se suscetíveis ao pensamento conservador. “Quando as pessoas têm seu meio de vida ameaçado, elas se tornam potencialmente abertas ao discurso da direita”, concluiu.

Assista ao vídeo com a entrevista: