Netanyahu forçou palestinos a escutarem seu discurso na ONU; entenda

Atualizado em 26 de setembro de 2025 às 14:08
Netanyahu durante discurso na ONU. Foto: reprodução

Durante a Assembleia Geral das Nações Unidas nesta sexta-feira (26), o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, principal responsável pelo genocídio de palestinos em Gaza, dirigiu seu discurso diretamente aos reféns israelenses mantidos na Faixa de Gaza. Durante a fala na ONU, ele foi vaiado e líderes mundiais deixaram o salão em protesto contra o massacre.

O premiê afirmou que Tel Aviv cercou o território com alto-falantes e utilizou a inteligência para invadir celulares de palestinos com o objetivo de transmitir sua mensagem. “Eu quero fazer algo que nunca fiz antes. Eu quero falar deste fórum diretamente aos reféns por meio de alto-falantes”, declarou Netanyahu perante o plenário da ONU.

Em seguida, o líder israelense proferiu sua mensagem primeiro em hebraico e depois em inglês: “Bravos heróis, aqui é o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, falando com vocês ao vivo das Nações Unidas. Nós não nos esquecemos de vocês, nem mesmo por um segundo. O povo de Israel está com vocês. Não vamos esmorecer nem descansar até trazermos todos vocês para casa”.

O escritório do premiê detalhou à imprensa israelense que a ação foi uma “instrução a entidades civis, em cooperação com as Forças Armadas, a instalar alto-falantes em caminhões apenas no lado israelense da fronteira de Gaza”, classificando-a como parte de um “esforço de diplomacia pública”. O Exército confirmou a medida, descrevendo-a como uma “campanha de influência”.

A iniciativa, no entanto, foi recebida com ceticismo quanto à sua efetividade. O jornal estadunidense The New York Times relatou que, após conversar com diversos moradores de Gaza, não encontrou nenhuma pessoa que tivesse conseguido ouvir o discurso de Netanyahu.

O plano havia sido antecipado pelo jornal israelense Haaretz, que revelou a existência de oposição interna dentro das próprias Forças Armadas devido aos riscos que a operação representava para os soldados envolvidos. De acordo com a mídia local, alto-falantes carregados por caminhões e guindastes foram posicionados em postos do Exército localizados a até 1 km da fronteira, dentro do território israelense.

A estratégia também foi criticada por familiares dos reféns. Viki Cohen, mãe do soldado Nimrod Cohen, sequestrado em 7 de outubro de 2023, manifestou sua oposição na rede social X. “O mundo, cansado de truques, exige, junto com a vasta maioria dos israelenses, o fim da guerra e o retorno de nossos filhos”, escreveu ela.

O grupo “Ima Era” (“Mães Despertas”), que reúne mães de soldados, emitiu uma crítica contundente: “Por quanto tempo você vai explorar nossos filhos para sua campanha pessoal? Eles não são figurantes em seu cenário de guerra. Eles não são acessórios em sua performance megalomaníaca”.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.