Não dá tempo de jogar bola se suas preocupações são atender empresários, manter um padrão de vida milionário e cortar o cabelo.
Pelé foi preciso ao criticar Neymar numa longa entrevista ao Estadão. Disse ele que o jogador santista, toda vez que chega na seleção, vira um jogador comum. E mais:
- “É um excelente jogador, mas sem experiência lá fora. Em todos os jogos fora do país ele não vai bem. Todos acham que ele tem de resolver os problemas da seleção.”
- “O Neymar tem muita responsabilidade. E sua preocupação é mudar o estilo, mudar o corte de cabelo. O Edinho, meu filho, que está na comissão do Santos, faz os treinos do time. Ele não dá falta nos treinos e o Neymar fica bravo. Ele está viciado nas faltas.”
- “Todas as faltas, escanteios, pênaltis é com o Neymar. Cada falta que ele bate, fica fora do jogo 1 minuto. Ele tem de ficar na cabeça da área para pegar a bola, dar um drible, usar a habilidade. Antes da cirurgia eu falei com o Muricy. Mas a responsabilidade do Muricy é grande. E é difícil bater de frente com o Neymar. O Neymar tem de largar mais a bola, jogar para o time”.
- “O problema não é a idade para ir embora. O problema é ter a condição de chegar lá fora e jogar. Principalmente para onde ele for. O jogo é mais duro na Inglaterra, Itália, Alemanha. O Barcelona seria o ideal para ele.”
Neymar tem um problema, e não é Pelé. Aos 21 anos, com um salário de anual de mais de 15 milhões de reais, somando o que ganha no Santos e os cachês de vários patrocinadores, ele é um príncipe mimado. Deve estar no octagésimo corte de cabelo. E a turma em torno dele não ajuda. Em 2011, ano em que ganhou o campeonato paulista e a Libertadores pelo Santos, a revista Alfa deu um capa com Neymar. Uma equipe foi fotografá-lo na Baixada Santista. Neymar foi relativamente solícito, posando com seu pai e sozinho. Mas tinha aquela marra que, magicamente, desaparece quando está diante das câmeras da Globo.
Sempre foi notável uma preocupação exagerada com sua imagem, seja lá o que isso quer dizer. Seu empresário me ligou na redação e pediu – ou, no mundo dele, ordenou – que o retrato da capa o mostrasse sorrindo. “É essa a imagem que queremos passar”, me falou, como se eu fosse parte de sua equipe. Não adiantou eu rebater que ele não tinha poder sobre isso. “Nós escolhemos as fotos de outras revistas. Por que vai ser diferente?”. Nós demos outra foto, claro, segundo nosso critério. Mais tarde soube, pelo repórter que esteve com Neymar, que o empresário mandou avisar que seu cliente não daria mais entrevistas à revista.
Neymar é jovem. A pressão sobre ele, como Pelé afirmou, é grande. Mas um bom começo seria tentar limpar a área dos sicofantas que o cercam na suposta tentativa de protegê-lo. Pelé é de outra geração, tudo bem, mas ele nunca teve porta-vozes e empresas de relações-públicas em suas costas. Seu corretivo vai ser útil a Neymar – se ele ouvi-lo. Provavelmente, não será ouvido. Seu estilo de vida – iate, carros importados, mansões, funk – demanda muita grana e a máquina precisa girar. Segundo a Forbes, ele estaria indo à falência. Não é verdade. Como não é verdade que uma boa fase dura para sempre.
Outro garoto prodígio veio do nada, conquistou enorme sucesso e, com o tempo, se cercou de parasitas (que ganharam o apelido de Máfia de Mênfis). Seu empresário era um tipo autoritário e carismático, com quem ele tinha uma espécie de casamento ruim, e que gostava de dizer coisas como: “Não tente explicar nada, apenas venda”. Quando Elvis quis se livrar deles, era tarde demais.