Nicolelis diz que chip cerebral de Musk é “invasivo e ficção científica ruim”

Atualizado em 31 de janeiro de 2024 às 23:58
Elon Musk de roupa de frio olhando para o lado com expressão séria
Elon Musk é dono da Neuralink – Reprodução

No recente debate sobre o implante cerebral desenvolvido pela Neuralink, uma das empresas de Elon Musk, o renomado neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis não economiza críticas. Em uma entrevista à Folha, ele descreve o dispositivo como “apenas fumaça”, questionando sua real contribuição e inovação para o campo.

O chip, apelidado de Telepathy, é projetado com a técnica de interface cérebro-máquina, originalmente concebida por Nicolelis. Sua finalidade é permitir o controle de dispositivos digitais, como computadores e celulares, por meio do pensamento, principalmente visando ajudar pessoas com deficiência de mobilidade.

Nicolelis, cujo grupo de pesquisa na Universidade de Duke obteve reconhecimento pelos primeiros registros bem-sucedidos do uso da tecnologia por humanos, expressa desconfiança em relação ao foco da Neuralink. Ele destaca que a maioria dos casos de paralisia pode ser tratada com interfaces não invasivas, enfatizando que a empresa está alimentando o que ele chama de “hype” e “ficção científica ruim”:

“A vasta maioria dos casos de paralisia pode ser tratada com interfaces não invasivas como nós demonstramos nos últimos dez anos; eles [a Neuralink] estão vivendo de hype e bad sci-fi [ficção científica ruim].”

Miguel Nicolelis posando ao lado de exoesqueleto
Miguel Nicolelis posando ao lado de exoesqueleto, demonstrado com pacientes, antes em cadeiras de rodas – Reprodução/Folhapress

Diferentemente da abordagem da Neuralink, o grupo de Nicolelis concentrou seus esforços em exoesqueletos, dispositivos destinados a melhorar a mobilidade de pessoas com paraplegia ou tetraplegia. Em 2014, um voluntário utilizando um dos equipamentos desenvolvidos pelo grupo chutou uma bola durante a abertura da Copa do Mundo no Brasil, demonstrando os avanços alcançados.

No contexto brasileiro, unidades médicas como a Rede de Reabilitação Lucy Montoro já incorporaram exoesqueletos em seus tratamentos para pessoas com paralisia, evidenciando a aplicabilidade dessas tecnologias no cenário atual.

Enquanto isso, o implante neural proposto pela Neuralink continua a ser alvo de controvérsias. Embora a empresa destaque a sofisticação de seu dispositivo, Nicolelis argumenta que a demanda de mercado por esses implantes é limitada, destacando os riscos associados à neurocirurgia, que muitos pacientes preferem evitar.

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