Nikolas Ferreira só será cassado se virar um traste como macho inseguro da extrema direita. Por Moisés Mendes

Atualizado em 13 de março de 2023 às 7:16
Deputado Nikolas Ferreira. (Foto: Reprodução)

Tente lembrar, sem a ajuda do Google e de robôs, quais foram os motivos concretos, específicos, da cassação dos mandatos dos senadores Delcídio do Amaral e Demóstenes Torres e do deputado Eduardo Cunha.

Não vale dizer, genericamente, que eles foram cassados por falta de decoro. Nem que todos perderam os mandatos, por decisão dos colegas, por envolvimento em desmandos com dinheiro.

Delcídio, Demóstenes e Cunha não tiveram a sorte de Aécio Neves, que escapou de todos os cercos. Eles perderam para as circunstâncias, para a incapacidade de reagir e porque alguma cabeça tem que rolar.

Por isso, não busquem coerência jurídica, legal ou moral entre cassado e cassação, como fazem agora com a possibilidade de perda de mandato do transfóbico de extrema direita Nikolas Ferreira.

Delcídio, Demóstenes e Cunha não cometeram os piores delitos como congressistas, até porque Cunha não foi cassado por ser golpista, mas por ser mentiroso.

Antes de Cunha, a Câmara já havia cassado outro ex-presidente da casa. Ninguém consegue lembrar direito por que, num exemplo clássico, Ibsen Pinheiro foi cassado pela Câmara em 1994.

Foi um teatro e foi também uma prova de que a acusação e o efeito que provoca podem ser apenas parte de uma farsa política. Ibsen, incluído num pacote de cassações, havia virado um incômodo para os pares e a ‘instituição’.

É bobinho o debate que passa agora pela tentativa de ver a eventual cassação como resultado da percepção dos colegas de Ferreira da gravidade da sua performance chinelona de peruca na tribuna.

Ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. (Foto: Reprodução)

Ferreira não será cassado porque seus colegas podem ter achado grave o ataque que o sujeito fez a pessoas LBGTQI+. A maioria da direita e da extrema direita não está preocupada com bons modos.

Ferreira somente será cassado se for transformado num estorvo. Se a sua permanência virar um incômodo até para a extrema direita no Congresso.

E, para virar um incômodo, antes ele precisa virar um traste. Mas aí a tarefa não é do Congresso, é da democracia, que sabe o tamanho da agressão cometida.

Ferreira precisa ser exposto, virtual e presencialmente, como a maior aberração da nova geração do bolsonarismo. E aí é preciso mobilização, povo, gays, mulheres, trans, democratas, negros, índios.

Também o Supremo precisa ficar em situação desconfortável. Ferreira precisa enfrentar milhares de Anas Paulas Renaults, a jornalista e ex-BBB que o derrotou no duelo verbal dentro de um avião.

Ferreira somente correrá o risco da cassação se for fragilizado até virar um traste, como Eduardo Cunha virou. E ele está longe de se parecer com um Eduardo Cunha.

Mas o rapaz não é, como a própria esquerda o carimba, nem moleque nem folclórico. Moleque é elogio. E folclórico é Tiririca.

Ferreira é perigoso. É a aposta de rejuvenescimento do fascismo com a pegada machista que incita ódios e violência. Sai o medo do comunismo, entra com força o ataque aos diferentes.

Ele foi eleito deputado federal com 1,47 milhão de votos, o recorde do ano passado. Ao lado dele, com os dois rosnando, Carluxo é um poodle.

Será difícil, mas o deputado transfóbico precisa se sentir abandonado, e isso só irá acontecer se a reação às suas agressões e aos seus deboches for além de um abaixo-assinado.

É trabalho duro. O Brasil está diante da possibilidade inédita de cassação de mandato de um extremista por ataques às diferenças e a direitos individuais universais, e não por envolvimento com ilícitos financeiros.

É uma chance histórica de fincar um marco na luta contra machos agressores, contra o avanço dos coachs de homens inseguros e contra o fascismo em geral.

Mas não basta assinar manifestos. A reação ao sujeito deveria agrupar em Brasília, nos corredores do Congresso, os que desejam vê-lo fora da Câmara.

Não precisa ter muita gente, mas é preciso fazer barulho e incomodar fora das redes sociais. Nikolas Ferreira tem que virar um Roberto Jefferson do time sub20 da extrema direita.

Originalmente publicado por Blog do Moisés Mendes

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