“Ninguém fala de paz, só eu”, diz Lula ao El País sobre a guerra Rússia e Ucrânia

Atualizado em 27 de abril de 2023 às 8:19
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na capa do jornal El País – Foto: Reprodução

Em entrevista concedida ao jornal espanhol El País, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou que somente ele fala sobre a paz no conflito entre Rússia e Ucrânia.

Acompanhe trechos da entrevista:

El País: Presidente, o senhor chega a um continente que assiste atônito a uma guerra em que não se vê possibilidades de pacificação. Por isso, qualquer iniciativa que fale sobre seu fim gera muita expectativa. Você lidera uma iniciativa internacional em busca da paz. Condenou a invasão, mas também criticou o envio de armas, e a Espanha envia armas para a Ucrânia. Quando um país é invadido e a vítima pede ajuda, o que os outros países devem fazer, cruzar os braços ou ajudar a vítima?

Lula: A primeira coisa a entender é que esta guerra não deveria ter começado. Ela começou porque não havia capacidade de diálogo entre os líderes mundiais há muito tempo. O Brasil condena porque a Rússia não tem o direito de invadir o território ucraniano. Os russos estão errados, mas ou você alimenta a guerra ou tenta acabar com ela.

Para mim é mais interessante falar sobre acabar com ela, mas ninguém fala de paz, só eu. Fui falar com Biden, com Scholz, com Xi Jinping, com Macron. É preciso se encontrar para acabar com esse conflito mas isso só pode ser feito se dois negociarem em uma mesa: é o que eu defendo.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante entrevista ao jornal El País – Foto: Reprodução

A Europa tem um papel mediador e deveria adotar uma espécie de meio termo. A Europa se envolveu muito rapidamente. Por isso é importante procurar líderes que queiram falar de paz. Devemos unir todos esses países. Na próxima semana vou falar com Macron e com outros presidentes para tentar encontrar essa paz.

El País: É óbvio que devemos tentar deter esta guerra por todos os meios, mas enquanto isso, deixamos os ucranianos sozinhos sem dar-lhes apoio enquanto Putin os bombardeia?

Quando [o chanceler da] Alemanha visitou o Brasil, ele nos pediu para enviar mísseis de tanques comprados da Alemanha para a guerra. Eu disse a Scholz que não ia vendê-los porque se um míssil for lançado e a Rússia descobrir que o Brasil o vendeu, o Brasil entra na guerra.

Quando você entra, não pode falar de paz. Quero falar com os países que não estão de forma alguma ligados à guerra para restabelecer a paz. Acredito que, se conseguirmos, estaremos prestando um bom serviço à humanidade, Porque senão a guerra não tem fim, porque Putin acredita que tem razão, e Zelenski, invadido, tem o direito de se defender. Então, quem vai acabar com a guerra?

Preocupa-me que esta guerra esteja ligada a interesses políticos eleitorais. Isso já aconteceu outras vezes no mundo e não acho justo que haja uma guerra sem que ninguém construa a paz. Vou tentar fazer isso.

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