Ninguém segura a passada de boiada de Tereza Cristina. Por Moisés Mendes

Atualizado em 10 de outubro de 2020 às 11:00
Tereza Cristina | Foto: SERGIO LIMA/AFP

Publicado originalmente no blog do autor

Se o Pantanal tivesse mais boi pastando, haveria menos incêndios. A maioria ri de uma tese ‘científica’ desse porte. Mas muita gente não ri, porque a bobagem é uma mensagem.

A tese da ministra Tereza Cristina sobre o boi-bombeiro tem coerência com as histórias esdrúxulas de Damares, de Ernesto Araújo, dos filhos de Bolsonaro e do próprio Bolsonaro.

A especialidade do governo é produzir besteiras. Mas o boi-bombeiro não é da mesma família da Terra plana, não é a mesma coisa.

Parece engraçado, e de fato é, mas é na verdade um produto de outra ala da fábrica de barbaridades do governo. Tereza Cristina é integrante da turma ‘racional’ do governo.

Há mesmo uma racionalidade na tua tese, da mesma linha dos raciocínios de Ernesto Araújo e seu anticomunismo obsessivo no Itamaraty, de Milton Ribeiro e seu moralismo na Educação, de Ricardo Salles e seu poder destruidor no Meio Ambiente. Todos já tiveram o seu boi-bombeiro, ou o seu boibeiro.

Uma ministra diz publicamente, e não numa roda de conversa, que o pasto mais ralo evitaria incêndios, e na sequência os jornais saem a ouvir os cientistas.

A reação dá sentido à sua fala e a eleva à condição de controvérsia. Mas não se enganem. O boibeiro não é o terraplanismo de Tereza Cristina.

Não é uma bobagem que aparentemente só fomenta ignorâncias. É uma tentativa de colocar o boi na conversa.

O boibeiro é mais um esforço para que abram todas as porteiras e deixem passar a boiada. O que ela disse é: encham o Pantanal de bois, como estão fazendo com a Amazônia.

É preciso baixar o pasto, com mais boi comendo o que estiver pela frente, porque o fogo não gosta de pasto ralo.

Se der, além do pasto, que cortem arbustos e árvores, que tirem do fogo o pretexto para que avance e destrua o Pantanal.

Sem pasto, sem árvores e sem bichos selvagens. O Pantanal poderá ser salvo e se transformar numa imensa invernada.

Tereza Cristina está mandando recados. Está dizendo aos fazendeiros que eles devem tomar conta do Pantanal, onde houver pasto. É o governo quem diz.

Ah, mas cientistas e ambientalistas não recomendam. Os cientistas apenas dizem o que pensam. Quem manda é o governo. E Tereza Cristina está mandando: passem a boiada, porque é o que eu e Bolsonaro desejamos.

Tereza Cristina não é uma Damares. O que Damares tem é um rebanho religioso. A ministra tem rebanhos de bois e de fazendeiros.

Não é brincadeira. A boiada de Cristina avança há muito tempo sobre pastos, árvores, rios, bichos e índios.

A INFLAÇÃO DO NETO DE BOB FIELDS
É chamada de capa do Globo online:
Inflação alta ainda não assusta o Banco Central.

O Banco Central não compra arroz, feijão e leite, não alimenta os filhos com salário mínimo.

O Banco Central só alimenta quem tem dinheiro e pode especular. Inflação é coisa que não deve mesmo assustar o neto de Roberto Campos.

Imaginem o Banco Central preocupado com uma inflaçãozinha de quase 20% do IGP-M.

O Banco Central não paga aluguel corrigido pelo IGP-M.

O que eles têm são as reservas deixadas por Lula e Dilma e que Bolsonaro está queimando.

Inflação é bobagem. Se Bolsonaro acabou com a corrupção, logo acaba também com a inflação.

EXEMPLOS EXEMPLARES
O abraço caloroso de Dias Toffoli em Bolsonaro.
O anúncio da fuga de Sergio Moro para o Alabama.
A decisão de Celso de Mello de ir embora sem encarar a suspeição do juiz da Lava-Jato.
O elogio de Hamilton Mourão ao torturador Brilhante Ustra.
Com tantas lideranças positivas e seus exemplos edificantes, é surpreendente que o Brasil esteja onde está.