Ninho do Urubu: nova tragédia carioca ressalta o desprezo dos Bolsonaros pelo RJ, seu curral eleitoral. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 9 de fevereiro de 2019 às 9:47
Flávio, Jair, Carlos e Eduardo Bolsonaro

O desprezo que os Bolsonaros têm pelo Rio de Janeiro, seu curral eleitoral, é visível a cada tragédia que acomete o estado — e eles são uma delas.

Ao menos seis pessoas morreram na capital em decorrência de chuvas torrenciais na semana passada. A Rocinha foi transformada numa cachoeira. Luto oficial.

Nem uma palavra nas redes, onde Jair e seus garotos militam incansavelmente.

Dez jovens atletas foram mortos num incêndio no contêiner onde dormiam no CT do Flamengo, o Ninho do Urubu, um caso que abalou o mundo e arrasou a cidade.

O presidente emitiu uma nota protocolar: “Que Deus conforte seus familiares!”

Carlos, o diretor do reality show, foi na mesma linha: “Que Deus abrace os familiares dos meninos jogadores vitimados!”

Flávio lembrou que foi um “dia triste no meu RJ. A tempestade foi inesperada, mas a negligência com contenção de encostas e habitações em áreas de risco são históricas”.

Missão cumprida.

Ato contínuo, voltaram a seus afazeres, quais sejam: agredir, desinformar, mistificar, se defender e promover sua agenda idiocrata.

Carlos, eternamente histérico, se deu ao trabalho de “denunciar” uma dissertação de mestrado sobre homossexuais no Tinder cujo autor recebeu R$ 1500 reais de bolsa.

Eles devem sua carreira ao Rio, onde se fizeram.

Carlos mesmo se descreve no Twitter como tendo sido “o mais jovem vereador da história do RJ, eleito com 17 anos de idade”.

O investigado Flávio, por sua vez, escreve que agradece “a Deus e aos 4.380.418 votos que me elegeram Senador pelo RJ”.

Eduardo, embora eleito pela segunda vez por São Paulo, é carioca de nascimento, típico playboy da Zona Sul, do sotaque à prancha.

Mencionou o desastre de forma lacônica (“Soube do incêndio que vitimou atletas do clube Flamengo”), seguido da proverbial prece para o Senhor confortar as famílias das vítimas.

Jair, como se sabe, foi deputado federal pelo RJ ao longo de três décadas, durante as quais ignorou os problemas da terra, especialmente na área de segurança pública.

O que ele fortaleceu foi seu patrimônio, o das crianças e o dos assessores ligados a milicianos, Queiroz o mais famoso.

Se um lugar representa um microcosmo da ruína nacional é o Rio, devastado por uma série de governantes corruptos e ineptos, sede da Globo, purgatório da beleza e do caos, como diz o poeta.

Ontem, treze pessoas foram fuziladas pela PM nas favelas Fallet, Fogueteiro e Prazeres. Há indícios de execução. A polícia se incumbiu de dar sumiço nas provas.

O “excludente de ilicitude” prometido no pacote de Moro ainda não vale, mas o ex-juiz vai dar um jeito nisso.

Esse é o legado do bolsonarismo para o Rio de Janeiro. 

Enquanto os pobres são executados, a classe média grita por uma arma e os ricos vão para Miami, os Bolsonaros reclamam do marxismo cultural e postam selfies da nossa desgraça.