No Brasil de Temer & Bolsonaro, o PM que mandou um estudante para a UTI virou heroi. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 1 de maio de 2017 às 13:53
O capitão Augusto Sampaio ataca o estudante Mateus Ferreira em Goiânia

O capitão Augusto Sampaio, subcomandante da 37ª Companhia Independente de Goiânia, é o “homem trajado como policial militar”, na definição imortal da Folha, que agrediu o estudante Mateus Ferreira, de 33 anos.

Mateus protestava no dia da greve geral e encontrou pela frente Sampaio — mais exatamente pelo flanco direito, num ataque de surpresa, como é de costume os covardes praticarem.

O jovem está internado na UTI com traumatismo cranioencefálico e múltiplas fraturas.

Está sedado e respira por aparelhos. Amigos de bom coração organizaram uma vaquinha para custear seu tratamento.

De acordo com o chefe de Sampaio, o comandante Divino Alves de Oliveira, ele foi “afastado das funções de rua em função da suspeita de agressão”.

Divino alega “suspeita” quando o que houve foi um flagrante de tentativa de homicídio. O cassetete simplesmente se dividiu ao meio.

A Secretaria de Segurança Pública de Goiás afirmou ter aberto investigação e que será “rigorosa na punição” caso — ah, essas condicionais — se comprove que Sampaio agiu de maneira criminosa.

A cena dantesca não foi a única no 28 de abril. No Rio de Janeiro, uma bomba de efeito moral foi atirada no palco durante um ato.

No palco.

Sampaio vai sumir de circulação por alguns dias e voltar ao trabalho sem ser incomodado. Se os policiais pilhados executando dois caras desarmados deitados no chão estão numa boa, por que ele iria se preocupar?

Já está sendo tratado como ídolo. Na internet, milhares exaltam sua presença de espírito diante do vândalo mascarado que estava pronto para destruir a cidade.

O golpe tirou do armário nosso Mr. Hyde para sempre. Somos trogloditas que, no combate entre Davi e Golias, torcemos para Golias. 

Canalhas orgulhosos, que estufam o peito diante do espelho e saem por aí chutando quem atrapalha o caminho.

O indigente extremista olha um senador com uma camiseta estampada com a imagem de uma mão com quatro dedos sujos de petróleo e pensa: por que não posso xingar de vagabundo um moleque entre a vida e a morte?

O mesmo indigente extremista vê seu amigo Bolsonaro falar de um negro “pesando 7 arrobas”, um quilombola “que não serve nem para procriar”, subir nas pesquisas e pensa: não estou sozinho.

O capitão Augusto Sampaio é a criatura certa na hora certa. Já pode se candidatar a qualquer coisa, que será eleito.