“No Brasil, indígenas pagam preço alto para existir”: TV francesa denuncia genocídio de Bolsonaro

Atualizado em 26 de janeiro de 2021 às 17:13
“Depois da eleição de Jair Bolsonaro, os povos indígenas pagam um preço alto para existir”, diz Vanessa Abba, no telejornal ARTE

Foi triste a experiência de ser um brasileiro na França ao assistir a televisão neste domingo. De um canal para o outro, eles falavam do Brasil. Do desmatamento ao genocídio, todos convergiam para um antagonista: Jair Bolsonaro está destruindo o Brasil e os brasileiros.

No canal franco-alemão ARTE, a denuncia de genocídio. “Depois da eleição de Jair Bolsonaro, os povos indígenas pagam um preço alto para existir”, diz a apresentadora Vanessa Abba.

“Fala-se em geral de desmatamento, mas hoje são crimes contra a humanidade que são denunciados no Tribunal de Haia contra o presidente brasileiro”.

“A maior floresta do mundo foi entregue pelo presidente brasileiro ao agrobusiness, à indústria mineradora e aos traficantes de madeira, atacando os direitos de indígenas, perseguindo-os”, afirma a reportagem do mesmo jornal.

“Que Bolsonaro, esse tipo assustador, saqueador, esteja no banco dos réus não é um sonho. Eu espero que um dia seja uma realidade”, diz William Borton, advogado de Raoni.

“O que já é realidade são os estragos irreversíveis que Jair Bolsonaro já provocou. Desde que há dois anos que esse presidente de extrema direita está no poder, o desmatamento aumentou exponencialmente. Os líderes tribais são assassinados num ritmo sem precedentes. Pelo menos 7 mortos no ano passado, assassinatos impunes evidentemente”, diz a reportagem.

“Suas terras, teoricamente protegidas, foram abertas à exploração. Pesticidas tóxicos, autorizados. Populações forçadas a se deslocar. E para completar: a Covid-19 faz um estrago por causa da ausência de medidas de proteção”.

“O presidente Bolsonaro se aproveita da emergência dessa pandemia. Ele diz que os indígenas devem morrer. Ele quer nos exterminar”, denuncia o cacique Raoni à reportagem.

“No verão passado, os profissionais da saúde apresentaram outra denúncia perante a Corte Penal Internacional contra Bolsonaro, também por crime contra a humanidade e genocídio. Dessa vez, por sua gestão da pandemia”.

Imagens do Brasil no ARTE Journal



No canal de maior audiência do país, o TF1, é justamente pelo desastre sanitário que o Brasil é notícia, precisamente em Manaus, “onde certos estudos mostram que 76% da população foi infectada pelo coronavírus, o que não a impediu de ser fortemente atingida por uma nova onda; o princípio da imunidade coletiva não funcionou”, diz a apresentadora Anne-Claire Coudray, apresentadora do Le Journal du Week-End.

“O Brasil começa com muito atraso sua campanha de vacinação. Dois milhões de doses chegaram neste fim de semana da Índia para serem distribuídas inclusive aqui em Manaus”, relata a enviada especial Anaïs Barth. “É uma corrida contra o relógio, mas uma esperança para essa cidade-mártir”, afirma.

“Miragem da imunidade coletiva? Brasil começa com muito atraso sua campanha de vacinação”, afirma correspondente do canal TF1 em Manaus



No canal de televisão France 5, o programa “Sur le front (no fronte)” expõe a Amazônia e o Pantanal em chamas, o trabalho de voluntários para resgatar animais feridos.

“Esses incêndios acontecem todos os dias. Não há um helicóptero sequer para vir ajudá-los. Você vê algum caminhão do corpo de bombeiros, da polícia? Não há nenhuma ajuda”, afirma no programa Delphine Fabbri-Lawson, ativista francesa. Ela colhe provas para denunciar Bolsonaro na Corte Penal Internacional, “pelo crime de ecocídio, a destruição de um ecossistema”. Seu objetivo é construir uma cartografia dos incêndios na Amazônia.

E a ameaça aos povos indígenas. “É a primeira vez que vejo incêndios nas terras do caiapós. Isso ultrapassa todos os limites”, diz Emilie Barrucand, 41 anos, etnóloga francesa considerada como filha por Raoni, à reportagem.

Na imprensa escrita, a denúncia de Raoni contra Bolsonaro é capa do jornal Le Monde. “O cacique Raoni acusa Bolsonaro de crime contra a humanidade, contra os povos indígenas”.


Denúncia contra Bolsonaro pelo Cacique Raoni é capa do Le Monde